Newsletter do Ducs #22: treinando de casa, como superar vergonhas, criando novos hábitos, empreendedorismo feminino na Turquia
Essa semana entrou a primavera na Holanda com seu clima mais típico. Tulipas? Não, não, tulipas são que nem uma criança posando bonitinha para a foto, mas que destroem a casa no resto do tempo. O clima na primavera aqui é tão enlouquecido que faz o clima de Curitiba e São Paulo parecer um monge budista em comparação. Fez sol. Nevou. Nevou enquanto fazia sol e temperaturas (levemente) positivas. As quatro estações se revezavam em ciclos de 3 minutos e meio e as vezes vinham todas juntas como ursos raivosos no mel. Foi interessante, no sentido 2020 de interessante... heh.
Okay, nessa edição vamos ter dicas para treinar sem uma academia, como lidar com vergonhas, de filme, como formar novos hábitos, uma loja online localizada na Turquia, fundada por uma empreendedora visionária e cheia de produtos lindos... entre outras coisas. Vamos juntos?
Avisos de praxe (mas ainda assim importantes
Nessa seção eu coloco links para as três últimas edições, para você se inteirar, ler (caso tenha perdido ou esteja chegando agora) ou reler, e de repente até mandar para alguém que possa curtir.
Curta a EDIÇÃO #21 AQUI (fotos de Amsterdam antiga e presente, como mudar de carreira, uma tinta especial)
Leia a EDIÇÃO #20 AQUI (despolarizar a conversa política, plano para os seus primeiros 5K, a ultramaratona mais difícil do mundo, reutilização criativa)
Pode também reler a EDIÇÃO #19 AQUI (Como funcionam as eleições na Holanda, uma caneta tinteiro inspirada em Van Gogh, Apps de corrida)
E esse fim de semana terminei de colocar todas as edições no site (menos a #1). Olha aqui.
E para não perder as próximas, e ainda receber uma versão exclusiva em PDF para baixar e guardar, coloca seu nome na lista:
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Testes rápidos de Covid: A Holanda pensa em meios de reabrir atrações mesmo com vacinação atrasada
A vacinação na Holanda está... como direi isso polidamente...? Uma bos... Uh, desculpe. Lenta. Muito lenta. O que eu acho meio inaceitável, mesmo quando a gente compara com o Brasil. Segundo o NY Times:
Veja... nem vou comparar números absolutos, mas mesmo em termos de % e por 100 habitante, está próximo - e aí você lembra que a Holanda é do tamanho do Estado do Rio de Janeiro, e tem uma população menor do que a Grande São Paulo em um país rico, com política estável e boa infraestrutura... beeeem...
Com o atraso na vacinação, os lockdowns se estendem, e chegamos num ponto que a prefeita de Amsterdam, Femke Halsema, do GroenLinks (EsquerdaVerde) apelou para o governo pedindo alternativas: "as pessoas estão cansadas e impacientes"...
Ela disse isso depois que teve de fechar o Vondelpark, principal parque de Amsterdam, num dia de clima mais ameno, porque ele simplesmente lotou. Tipo... Lotou lotado. Ela mandou a policia evacuar, mas disse que isso não era sustentável. "Com o número de habitantes de Amsterdam, não dá para esperar que a polícia vá conseguir manter a ordem... é preciso dar alternativas para as pessoas". Por isso ela estava pedindo por uma abertura organizada de terraços, zoológicos, jardins botânicos e outras alternativas ao ar livre. (Fonte em inglês)
O Gabinete está considerando agora abrir os terraços e eliminar o toque de recolher a partir do dia 21/4. E começam a fazer programas piloto para reabrir atrações para pessoas com resultado negativo no teste rápido de COVID. Essas pessoas receberiam um "passaporte" que daria acesso as atrações. (Fonte em holandês).
Pode funcionar? Talvez. Mas eu preferia a vacina, pra te ser bem sincero. Tipo... existe uma. Várias, aliás. Né?
Enfim. É primavera! Ei, olha, está nevando de novo!
Treino de força em casa
Com as academias fechadas há meses, eu e a Carla (que virou crossfitter ano passado) passamos a buscar alternativas para treinar em casa. No começo a gente usava apenas o peso do corpo, com exercícios de calistenia. Funciona bem, aliás, surpreendentemente bem, e notamos até vantagens sobre academias. Bom, além de ser mais barato, claro.
Flexibilidade de horário, por exemplo. Mesmo quando as academias estavam abertas, havia limitação de horários e vagas, e a Carla principalmente, que tem horário mais restrito, e fazia aulas de Cross Fit, tinha dificuldade de conseguir horários para as aulas. Fazendo em casa, basta escolher a hora e fazer.
Outra vantagem é... menor risco de infecção. Mesmo seguindo todas as regras, em casa o risco é menor, né?
Apps para treinar em casa
Mas aí surge aquela dúvida: sem um professor, como montar um treino? Claro que ter um personal trainer é ideal, ou mesmo uma aula coletiva. Mas na falta, tem alternativas. Apps, por exemplo. Eu gosto bastante do Nike Training Club, que tem montes de sessões, de iniciante até avançado, com equipamento, sem equipamento, monta programas para você (com Inteligência Artificial). Curto bastante. Procura na App Sore ou Google Play por NTC ou Nike Training Club. E é gratuito.
A Carla usou para retomar os treinos depois do COVID o Headspace. Sim, é o mesmo app de meditação que eu recomendo milhões de vezes aqui, mas tem um tempo que ele é mais que isso. Já se transformou em um app de wellness, bem além de apenas meditação. E tem uma sessão com vários treinos, desde sessões isoladas até programa completo, começando do zero. A treinadora favorita da Carla lá é a Kim. A Kim virou parte da nossa rotina, eu já até dava bom dia para ela quando chegava na sala e tava Carla e ela malhando (a Carla punha o app na nossa AppleTV via AirDisplay. Eu sempre uso o celular mesmo). A desvantagem do Headspace: é pago. Mas olha... vale. Eu achava que valia até quando era apenas meditação. Me salvou e não foi apenas uma vez.
Vídeos de workout
E aí tem o Youtube, claro. Busca que tem MUITA coisa boa lá. Eu me acostumei a buscar vídeos em inglês (anos morando no exterior faz isso com a criatura), mas certeza que você acha coisa boa em português. Se inglês não for um empecilho, eu tenho uma playlist no YouTube com vídeos de workouts. Eu criei ela para mim mesmo, mas se você quiser usar, fica à vontade. Esse é o link!
Um youthber de treino que gosto bastante é o Jeff Cavaliere (What's up guys, Jeff Cavaliere Athlean-x dot com). Bem, ele é bodybuilder, e essa parte não gosto, mas ele é também fisioterapeuta, e foca muito no movimento correto dos exercícios (alo um pouco mais abaixo disso), e é bem didático. E tem vários exercícios para força, postura sem necessariamente focar em bodybuilding o tempo todo.
Equipamentos para treinar em casa
Outra coisa que fizemos foi, usando o dinheiro da mensalidade da academia, comprar equipamentos. A Decathlon é uma super pedido: os preços são bons e a qualidade OK. O que compramos:
Tapete de yoga
Set de elásticos
Uma barra de pull up para instalar na parede (comprei na Amazon alemã)
Set de halteres daqueles que vem as barras e você pode trocar os pesos. Comprei na bol.com, mas a Decathlon também tem
Foam roller (para auto massagem). Na Amazon holandesa.
Não compramos tudo de uma vez, claro, mas ao longo de um ano, usando nosso super app de orçamento doméstico (que fiz o review aqui). Não vou recomendar modelos específicos porque... bem, porque eles mudam toda hora, entram e saem de estoque, lançam outras versões e aí não adianta nada. Mas olha, com um tapete de yoga, um app e o peso do seu corpo dá para fazer muita coisa e treinar anos.
(Espero que essa pandemia não dure muitos anos, mas que você dure muitos anos... Que tempos esses, onde eu escrevo uma frase dessas e faz sentido...)
Alguns cuidados
Ah, uma coisa que é importante: preste muita atenção nos vídeos e app para fazer certinho o exercício. A gente tende a querer fazer o exercício a qualquer custo, manter o ritmo, cumprir as repetições e acaba usando partes do corpo que não fazem parte do exercício para compensar. Se você está pensando na flexão de pescoço de certos presidentes, é um exemplo drástico, mas tem outras maneiras que a gente compensa. Numa rosca de bíceps, a gente usa o ombro, o core, o corpo todo para "jogar" o peso para cima... importante usar as partes corretas, com controle, mesmo que signifique menos repetições, ou modificar o exercício para conseguir fazer certinho. Com o tempo você vai ficando mais forte e capaz de fazer versões mais difíceis. É muito mais importante fazer certo do que fazer muito. Aliás, fazer muito só que errado resulta em problema, não em progresso.
E preste atenção também na posição das partes do corpo não envolvidas ativamente no exercício. A gente dá toda atenção para a parte que está lá se esforçando, e acaba esquecendo do resto. E o corpo é um todo, não tem "resto".
Outra coisa: é importante aprender a identificar a dor "boa" e diferenciar de dor ruim. A dor "boa", de músculo sendo usado, é diferente. A dor ruim é aguda, específica, assimétrica, persistente. Dolorido é uma coisa. Machucado é outra. Pare e procure ajuda. Não insista até entender o que está havendo e tratar (com orientação, muitas vezes de um fisioterapeuta). Não se auto medique, não mascare dor só para poder continuar, não acredite no "no pain no gain". Tem dor e tem dor. Aprenda a ouvir seu corpo e quando e quanto desafiá-lo.
Movimento é remédio, corpo ativo é corpo feliz. Bom treino!
Perguntas e respostas: Vergonha de correr na rua
Por mais que treinar em casa tenha vantagens, meu esporte principal é corrida, e uma das coisas que mais gosto nele é estar ao ar livre. Eu amo, simplesmente amo ir para fora (mesmo em clima inclemente e ensandecido da Holanda) e passar horas de meditação em movimento. Eu corro na rua mesmo, vendo a cidade, as pessoas, o céu, a vida.
Contando sobre isso, me perguntaram se eu não tinha vergonha de correr na rua - e se eu tinha dicas sobre isso. Well... tinha. E tenho.
No começo, eu na verdade tinha sim vergonha de correr na rua. Eu comecei a correr de madrugada, antes das seis da manhã e uma das vantagens eram as ruas desertas. Confesso que isso era um motivo. Só que com o tempo eu fui percebendo algumas coisas...
Primeiro, a corrida é sua. Existem milhões de tipos de corrida, e milhões de corredores. Tem corrida de tiros repetidos e rápidos. Tem corrida regenerativa. Tem corrida em baixa pulsação, e tem longão, e tem corrida de limiar, e tem corrida de passeio. Você pode pensar "ah, aquele cara tá muito devagar", mas ele está fazendo um longão de 30km em baixa pulsação. ele não quer estar rápido! Você pode pensar "ah, aquele ali está muito rápido, vai cansar logo, tá vendo já parou", mas ele está fazendo 5 tiros de 1km com 500 metros de intervalo. E tem corredores que começaram a correr ontem, tem corredores que correm há décadas, tem gente que está se recuperando de um infarto (ou um AVC, o que você nunca diria que é o caso vendo o Érre correr), Você simplesmente não tem como saber. E se você não pode julgar ninguém... como que alguém pode te julgar então?
Não é isso? Me diz...
O que faz você se sentir inibido? Seu corpo? Bom, eu poderia dizer que cada corpo é um, todos os corpos são bonitos em sua individualidade, mas eu sei que não vai adiantar. Quer dizer, é verdade, mas eu sei que essas travas são internalizadas na gente. Então pensa assim: você está trabalhando seu corpo, em vez de ficar apenas infeliz e escondendo ele. E a corrida vai inclusive te ajudar a aceitar o seu corpo, porque ao movimentá-lo regularmente, isso vai te conectar a ele. Você vai senti-lo, vai aprender que ele responde quando você pede, vai passar a confiar nele, ouvi-lo e, como toda amizade, isso irá crescer e se aprofundar com o tempo. O início de uma relação pode ser desajeitado ou constrangedora, a gente tem vergonha, mas quebrado o gelo inicial, ela fica natural, gostosa e enriquecedora. Você não tem vergonha de andar na rua com seu/sua namorado/a, por que deveria ter de correr com o seu corpo?
Vai lá, dá o primeiro passo. Todos os outros seguirão.
Dica de holandês: vergonha de falar com estranhos
E já que estamos no assunto vergonha, outra pergunta que me fizeram: como perder a vergonha de falar com as pessoas quando se está aprendendo holandês? Ainda mais com a peculiaridade holandesa de virar pro inglês a menor provocação, um vacilo, um olhar inseguro, uma cara de estrangeiro, qualquer coisa é motivo para eles começarem a falar inglês contigo. Junta isso com a insegurança natural de não dominar uma língua, e o efeito pode ser devastador. Eu estaria mentindo se não dissesse que isso já me enervou muito. Tomar um "good morning" antes mesmo de abrir a boca, ou gastar seu holandês ensaiada só para ouvir "Sure, it's over there" pode ser revoltante no dia errado.
Uma dica que sempre me deram é: diga que não fala inglês, cortando a saída de vocês dois. Nem o holandês vai poder apelar nem você vai poder fugir. Mas.... eu tentei. Confesso: nunca gostei dessa tática. Acho bizarro fingir, e a cara de "COMO ASSIM NEM INGLÊS VOCÊ FALA" pode ser mais enervante ainda.
Eu preferia dizer "desculpa, meu holandês não é super bom, mas eu gostaria de tentar". Em geral isso deixa eles envaidecidos que eu estou fazendo um esforço e não seu desses "estrangeiros que vivem aqui e nem tentam aprender a língua", dão apoio e incentivam, e até elogiam. E não precisava mentir.
Testa e me diz se fez diferença.
Conversa com saguis (criando saguis na Holanda)
Bom, mas isso é passado. Hoje eu tenho dois exigentes professores em casa, sempre prontos a construtivamente (heh) criticar meu sotaque e me ensinar palavras novas.
Por outro lado, eu e Carla ensinamos português para eles. E a íngua oficial da casa é um portu-landês duquístico peculiar. Diálogo real:
— Papa, diz um getal boven de tien.
— Hm, Vinte e três.
— Drieëntwintig, toch?
— Juist!
— Iupi!
Isso foi o sagui mais novo testando seus conhecimentos de número (getal) em português. E tinha que ser acima do dez (boven de tien), porque senão é muito fácil...
Na edição #7 eu listei algumas palavras de holandês que fazem parte do vocabulário comum da saguizagem aqui...
Quer criar filho em outro país né? Vai vendo 🤣
EDC: Dica de loja com acessórios de life style cool (e de alta qualidade)
Na edição #20 eu dei a dica de uma loja de acessórios de couro instalada em Kiev, muito legal, a Kruk Garage. Nessa edição eu vou falar de uma loja Turca de acessórios para sua vida... A Galen Leather. Mas olha, esteja avisado: é preciso ter auto controle lá...
A Galen Leather é um exemplo de empreendedorismo feminino. Foi fundada em Istambul pela Zeynep. Ela foi diagnosticada com um câncer cujo tratamento a impediu de falar. Sem poder se comunicar, a carreira dela na época em vendas (apesar de ser formada em geofísica!), havia acabado. Procurando uma alternativa, ela foi para o mundo online. Assim poderia manter toda a comunicação por escrito, e não dependia da voz. Assim começou a Galen Leather.
A loja vende acessórios de couro e madeira para carregar (edc), organizar escrivaninhas e seus materiais de papelaria. Eu comecei a acompanhar em 2018 (tenho até email com ela), e fiquei muito triste quando soube que em 2019 ela acabou falecendo devido à doença. A empresa continua, ainda na família: o marido e o irmão assumiram e deram continuidade ao trabalho da Zeynep. (Você pode ler a história dela em inglês aqui).
E que trabalho! Eu tenho um monte de coisas de lá na minha escrivaninha, feitos com material de qualidade (couro e madeira), e muito bem acabados. Até as caixas de papelão da embalagem são excelentes! Tanto que eu nem jogo fora, tenho até hoje e ainda uso para guardar outras coisas.
Alguns dos produtos que eu tenho:
Enfim, essas são apenas algumas das coisas. Eu tenho também um Washi tape dispenser deles (aqui), e já também dei coisas de lá como presente. Vale a pena passear pelo site. Tem itens de EDC (Every Day Carry) como carteiras aqui, bolsas (aqui) e estojo de toalete, e muito mais. Eu posso passar horas namorando os produtos.
Se você assinar a newsletter deles, ganha um desconto, e depois que compra, ganha outro para as próximas. Ajuda, já que não são baratos. Mas olha, qualidade custa, e eles não fazem nada industrializado ou em escala - inclusive tem itens que são feitos só quando você compra, podendo demorar um pouco. vai compensar.
Aviso: eu não tenho nenhuma relação com a Galen Leather, nenhum desses links é afiliado e eu não ganho nada por indicar. A newsletter é inteiramente financiada pelos seus leitores.
Dica de filme (e audiobook): 1984
Na edição #20 eu mencionei que havia lido, bem, escutado A Revolução dos Bichos, de Orwell. Na mesma coleção de audiobook segue o clássico 1984. Esse eu já tinha lido uns dez anos atrás, mas foi interessante ouvir.
Eu estou ouvindo livros agora porque estou ainda me recuperando da cirurgia no olho, e não consigo ler por períodos maiores de tempo. Coisas curtas rola, mas se a letra for muito pequena, ou eu precisar ler muitas frases seguidas direto, não consigo, a visão fica dupla. É uma das sequelas possível da cirurgia. Com isso, fui para os audiobooks. Eu não gostava antes, sempre fui da palavra escrita (e se possível, do livro físico). Porém, descobri algumas vantagens no áudio.
Por exemplo, com um bom narrador, surgem certos nuances que passavam batido antes, como o sotaque dos personagens. Mais de uma vez o background do personagem fica bem mais aparente em seu sotaque, e um narrador competente consegue destacar isso. A interpretação, entonação também enriquecem a obra. Nisso, Stephen Fry, que narra essa coleção de Orwell, é mestre. Sua interpretação é, tipo... perfeita. Mesmo tendo já lido 1984, eu ganhei ao ouvir a narração dele.
Filme: 1984
Empolgado e com a obra fresca na cabeça, fui na AppleTV e comprei o filme 1984, feito em... well, 1984. Eles inclusive mencionam que o filme foi gravado durante o período no qual se passa o livro. Uma das cenas, onde Winston escreve em seu diário "4 de abril de 984" foi gravada naquela data de verdade.
O filme é super fiel ao livro em outros aspectos também. Tem boas atuações, incluindo a última de Richard Burton. Além dele, temos John Hurt e Suzanna Hamilton nos papeis principais. O cenário é bem feito, e a história... bem, é basicamente a mesma do livro, sendo muito fiel, poucas modificações.
O que na verdade é a parte que eu não gostei tanto. Sendo tão fiel, o filme as vezes parece ser... um resumo do livro. E nisso, gera um sentimento de perda, porque as partes cortadas enriqueciam a história, mas não entrou nada novo no lugar. Um exemplo fantástico de filme criando em cima do livro e trazendo algo novo é Apocalypse Now, que manteve os traços gerais do maravilhoso livro de Joseph Conrad (Coração das Trevas), mas criou em cima e assim ficou independente. Não foi o caso desse 1984, me parece. Ainda vale assistir? Sem dúvida. Mas leia (ou, vá lá, ouça) o livro também.
Como formar novos hábitos
Na edição #12 eu falei sobre como a rotina é um instrumento para libertar minha vida de pequenas decisões e com isso me ajudar a construir resultados que surgem apenas com a repetição regular de pequenas ações. Daí uma pergunta que recebo muito é: como iniciar um novo hábito.
Isso é assunto de diversos livros (muitos que viraram best sellers, como Hábitos Atômicos), mas eu posso dizer como eu tenho feito desde 2018, quando quis mudar o estado geral da minha vida. Talvez te de uma ideia.
Primeiro, eu facilito o máximo que consigo. Em vez de sair revolucionando tudo de uma vez, eu pego um habito que quero introduzir, e apenas um. Daí eu escolho a maneira mais fácil e simples de começar. Eu vou baixando as exigências até que seja algo realmente básico e não tenha desculpa para não fazer. Até ser apenas um pequeno passo.
Queria começar a correr? Comecei em círculos (devagar) na minha sala, por um ou dois minutos, andando nos intervalos. Melhorar alimentação? Resolvi comer três frutas por dia, e qualquer fruta contava. E note: não comecei a correr e mudar a alimentação ao mesmo tempo. Primeiro comecei a correr. Meses depois comecei a mudar alimentação. Hoje, mais de dois anos depois, corro longas distâncias (domingo passado meu reino foi de 21km, esse domingo vai ser de 23km), virei vegetariano, tenho acompanhamento de nutricionista, perdi peso, ganhei força... Se dois anos atrás eu olhasse alguém que está onde estou hoje, eu diria "ah, muito difícil" e nem começaria. Mas comecei aos poucos, um pequeno passo por vez, uma mudança por vez.
Outra coisa que me ajuda é manter meu journal... que é em si um novo hábito. Quando começo um novo hábito, eu anoto o progresso no journal. Sem nenhuma metodologia específica não... eu só ponho lá: "corri xis km" ou, quando estava começando a mudar alimentação "comi uma maçã". Quando o hábito está bem estabelecido, eu nem anoto toda vez necessariamente, mas me ajuda a sedimentar e internalizar no começo.
Outra coisa que para mim é essencial: eu desperto curiosidade sobre esse novo hábito. Eu resolvo estudar, aprender sobre ele. Os motivos de porque as pessoas fazem, como elas fazem, que efeitos traz, qual a história dele (eu falei inclusive sobre as histórias da origem da maratona e ultramaratona na edição #16). Eu leio sobre, desencavo podcasts, vejo vídeos no YouTube... aprender sobre o novo habito me faz me interessar pelo processo, e aprender a gostar do processo é essencial. Se for ficar só na força de vontade, pensando só no resultado mas odiando o processo, bem... é a receita para largar o novo hábito. Falei mais sobre isso no post sobre a relação entre perder peso e corrida, na seção "força de vontade não é a resposta".
Daí tem as paradas e interrupções. Quando a gente esquece, ou pula um dia ou mais, dá aquela sensação de que falhamos e largamos o novo hábito. Mas eu mudei como eu encaro isso: é tudo um longo e contínuo processo. E dentro desse processo é natural haver pausas, altos e baixos. Então, quando eu pulo algum dia, não penso "aff falhei", mas "ok, precisei de uma pausa. Vamos retomar".
Tem funcionado para mim, pode ser que te de algumas ideias eu ajude a encarar essas mudanças de uma outra maneira. Depois me conta se funcionou.
Pensamento da semana: todo mundo é um influencer
Eu estava descendo para chamar os saguis no parquinho e dizer que a janta estava na mesa, quando a vizinha saiu ao mesmo tempo, levando seu doguinho de três patas (ele nasceu sem uma) para passear. Dei aquela pausa de 1,5m da pandemia para esperar ela passar. Ela estava indo quando se virou e disse:
— Sabe, você me inspira.
— ?!
— Eu sempre vejo você passando para ir correr, e eu penso, nossa, preciso fazer mais exercício. E eu comecei!
E eu nem imaginava.
Isso me lembrou outra história, que li uma vez num comentário. Um cara estava fazendo uma prova de 10km num parque. Tinha gente assistindo e torcendo. Era uma prova pequena, no parque local. Ele estava num mau dia, e por qualquer motivo, não estava tendo uma boa prova. Na verdade, ele estava em último lugar, e tomando volta do pessoal. Quase parou a prova ali mesmo, se sentindo humilhado, mas foi andando até o fim. Terminou em último, caminhando a maior parte do percurso.
Meses depois ele estava no começo de outra prova no mesmo parque, quando uma senhora o abordou e disse "você me inspirou a começar a correr! Eu estava assistindo uma prova que você fez..." E ele percebeu que era a prova que havia dado tudo errado.
— Mas eu terminei em último lugar!
— Você não desistiu e terminou, e eu olhei aquilo e pensei, bem, se ele pode terminar andando, e continuar mesmo estando em último, então não em nada de errado em chegar em último ou não conseguir correr o percurso inteiro. Outras pessoas também fazem. E comecei a correr. Essa é minha primeira prova. Obrigada!
As vezes a gente se sente o único fazendo algo. A única pessoa doida que pega a bike e vai pro trabalho enquanto todo mundo olha e julga de dentro de seus confortáveis carros. O único que anda quilômetros com lixo na mão para jogar no cesto. A gente faz por nós mesmos. Mas as vezes, sem saber, a gente também faz pelos outros.
Toda avalanche começa com uma pedrinha rolando...
Frase da semana: Mandamentos paradoxais
Muito obrigado!
E acho que está bom por essa semana. Para fazer a newsletter, eu uso um caderno da GLP Creations e minhas canetas tinteiro, e vou anotando ao longo da semana os assuntos e ideias para desenvolver na edição seguinte. Sempre, sempre sobra assunto para a próxima semana. Isso na verdade é uma coisa legal: cada semana eu já começo com alguma coisa planejada, não é do zero. Outra dica: criar seções fixas, ou uma estrutura também ajuda. Por exemplo, eu tenho a frase da semana, reflexão da semana, dica de livro, filme ou música (tinha uma música para essa, mas fica para a próxima), atualidades da Holanda... se você acompanha, sabe, se está começando agora, vai perceber. Em ambos os casos, MUITO OBRIGADO!
Muito obrigado mesmo pela sua companhia e apoio nessa jornada. É um projeto alternativo, artesanal, pessoal. Eu quero tirar a pressão constante para ficar up to date, dar um respiro para as pessoas, criar um conteúdo que pode, deve ser consumido com calma, no seu ritmo. Eu recebo email de pessoas comentando edições de meses atrás e eu acho isso muito bacana! O conteúdo que faço não é para ser descartável, portanto eu não preciso te pressionar.
E com isso, eu mudo meu foco totalmente para você. Eu não repito frases artificialmente para aumentar meu ranking nos sites de busca. Eu ponho tags para te ajudar a navegar, não para gerar links com palavras chaves. E quando peço para você responder uma newsletter minha, não é para "gerar engajamento" e impressionar o algoritmo.... mas porque eu quero ouvir sua história (não tem como o algoritmo medir quantas resposta eu recebo, só eu sei disso). E a sua resposta me dá força para continuar, porque sinto que não estou falando sozinho.
Se você acredita nesse projeto, pode apoiar usando o link abaixo. Como comentei na dica da Galen Leather, quem financia a newsletter é você, não o anunciante (note que não tenho banners). O foco dela é você! Sem você isso aqui não tem nem sentido.
Pelo sue apoio e companhia, de novo, muito obrigado. Espero que tenha curtido a edição dessa semana. Deixo aqui meu abraço e até semana que vem!
Daniel - daniduc 🤘
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