Criando filhos na Holanda
Uma coleção de dicas sobre como criar filhos na Holanda, com dicas culturais, escola, língua e mais
E aí, tudo bem contigo?
Nessa edição eu vou falar sobre alguns aspectos de criar filhos na Holanda. Claro, do meu ponto de vista. Experiências variam. Eu só posso oferecer a minha, mas não quero subentender que ela seja universal Holanda afora.
Mas vou falar de alguns aspectos culturais (e os choques resultantes para mim).
Vamos começar pelas férias escolares na Holanda, porque nesse minuto eu tenho dois saguis (eu chamo meus filhos, e criança em geral, de sagui. Um apelido carinhoso) em casa, em plenas férias de maio…
As férias escolares na Holanda
Aqui as férias escolares são todas picadas — A gente tem duas semana no inverno, entre Natal e Ano Novo mais a primeira semana de janeiro. Daí tem mais uma (ou duas, a distribuição varia um pouco) em fevereiro, e mais uma em maio.
A escola na Holanda
A escola dos saguis é pública e fica no nosso bairro, o que é prática absolutamente comum aqui. Muito pouca gente vai para escola particular. Até as princesas da Holanda vão para escola pública ( de bike ainda por cima).

Um dos aspectos interessantes do sistema de ensino público holandês é poder escolher (dentro de um limite) o sistema de educação. Além do modelo tradicional, tem o Montessori, Waldorf, Dalton, Jenaplan, Freinet. Montessori é bem popular: no nosso bairro tem mais de uma escola Montessori, por exemplo, e nossos filhos estudam numa delas.
Método Montessori
Talvez a popularidade da Montessori aqui tenha alguma relação com o fato da Maria Montessori ter morado muitos anos na Holanda (ela faleceu em Noordwijk, onde está sepultada). O método Montessori me parece muito interessante, e na verdade eu gostaria de ter estudado nele. Nunca me adaptei ao método tradicional, tinha resistência a ele. Apesar de sempre ter tido uma curiosidade natural e muita vontade de aprender e estudar (até hoje), eu por muitos anos acreditei que eu odiava estudar. Eu cabulava aula para ir na biblioteca da escola ler escondido (e eu li a biblioteca inteira em mais de uma escola: eu ia prateleira por prateleira, pegando um livro depois do outro). Eu de fato lia dicionário: eu li o aurelinho inteiro. E DETESTAVA ficar parado sentado ouvindo professor por horas a fio.
O método Montessori estimula a criança a seguir sua curiosidade natural - não que isso queira dizer "estuda só o que quiser", obviamente. O curriculum todo é passado, de tabuada a gramática, mas de uma maneira mais ativa, onde independência e colaboração são estimuladas, com a orientação do/a professor/a. As crianças sentam em grupos, e não em cadeiras voltadas para frente, e se organizam para fazer as tarefas e lições, podem tirar dúvidas entre si (ou com a professora), podem sair da classe para buscar um livro (e eu cabulava para ir à biblioteca!), tem momentos de discussão com a classe toda... E, sim, tem prova. É um método onde além de aprender as matérias, as crianças aprendem a aprender, o que no mundo pós internet, é meio essencial. Tem inclusive aulas onde se discute como identificar informação válida, verificar notícias, aprender a distinguir boatos de internet (isso no bovenbouw, os grupos 6 a 8).
Ah é: as crianças são divididas em três grandes séries, que estudam junto como uma classe: o onderbouw (grupos 1 e 2), middenbouw (grupos 3, 4 e 5) e bovenbouw (grupos 6, 7 e 8). Sim, crianças de idades diferentes estudam juntas. Quando elas chegam na classe, são integradas e ajudadas pelas crianças mais velhas. Conforme vão se integrando e se adaptando, elas passam a ajudar as novatas. Funciona surpreendentemente bem, ao menos na escola dos meus filhos. Lembro até hoje como a sagui toda tímida foi ajudada quando chegou a primeira vez no onderbouw por uma coleguinha, e lembro do orgulho dela no final do middenbouw ajudando as crianças recém saídas do onderbouw.
Esse sistema também quer dizer que a composição das classes não é constante, e varia todo ano, com crianças chegando e saindo. Por um lado, isso leva a algumas separações. Por outro lado... bem, evita a formação de panelas invioláveis, um problema que eu sofri muito, tendo mudado bastante de escola durante a minha infância, eu sempre sendo "o novato", o recém chegado, o estranho no ninho. Além disso, estimula o desenvolvimento da habilidade de socializar com pessoas diferentes o tempo todo, o que é algo que vamos encontrar ao longo da vida, com novos colegas de trabalho, por exemplo. Acho válido e de novo, na minha experiência particular com meus filhos, funciona bem.
Leia meu post explicando sobre o ensino médio na Holanda
Greves escolares na Holanda
Com tudo isso, é curioso os brasileiros se chocarem quando acontecem greves escolares aqui. "mas é tão bom e funciona!'. Uh, sim, claro, porque a menor ameaça do governo de mexer com o sistema de ensino resulta em forte resistência dos professores. Digo, você não acha uma curiosa coincidência a Holanda ter um bom sistema de ensino público e ter greves de professores apoiadas pelos pais? Será que se tirasse as greves o ensino ia mudar para AINDA melhor com os cortes que os governos gostam de regularmente propor? Talvez... o que sei é que atualmente o método de "se ameaçar tirar grana das escolas e salários de professores vai ter barulho generalizado" tem funcionado.
A cultura do playdate (af) na Holanda
Eu já falei na edição #17 de como são as férias escolares aqui na Holanda: picadinhas ao longo do ano (num total de 3 meses de férias). Curiosamente, as férias de trabalho também podem ser picadas. Você pode tirar até um dia de férias por vez, tipo, "amanhã eu não vou vir, vou tirar de férias". Claro, desde que o seu chefe concorde, mas tipo, isso é algo que as pessoas fazem, e se ele discordar, é porque tem um motivo específico, não porque ele acha que você enlouqueceu e tá na hora de te demitir.
Mas ainda assim, fato é que a saguizada tem mais férias do que os papais, mamães e responsáveis, e aí o que fazer com as criaturinhas? Tem sempre a opção de estender as horas da creche, para quem usa esse serviço (é bem caro), ou escalar um avô ou avó para cuidar dos trequinhos. Agora com a pandemia, muita gente trabalha de casa, e já acostumou com reuniões com trilha sonora de criança sendo criança em volta.
Nesse momento eu estou escrevendo com três saguis dançando pela sala - está chovendo lá fora. Três? Yes, essa é uma das opções, fazer afs. Um "af" vem da palavra "afspraken", que seria "combinado" em holandês, mas serve também para "encontro", "compromisso", ou, nesse caso, um playdate. A gente faz uma troca de saguis.
Em tempos pré corona era super comum depois da escola os portões se abrirem, e uma onda de saguis rolar para fora ao som coletivo de "PAPA/MAMA mag ik af?" (Papai/mamãe, posso fazer af?). Dificilmente você voltava para casa com o número regular de saguis. Ou voltava com alguns a menos ou com muitos a mais.
Hoje em dia, com as restrições, os combinados são feios via whatsapp mais do que ao vivo e no improviso, mas a cultura do af vai bem, obrigado. É, na real, considerada parte muito importante do desenvolvimento social da criança. E se você precisava de mais um motivo para querer aprender holandês morando com filho aqui, toma mais esse: você vai se ver com holandesinho/as sob seu cuidado e boa sorte aí falando inglês com eles. E contar com boa vontade do seu sagui para servir de intérprete? Você é mais otimista que eu.
Eu já sou veterano de afs, comecei anos atrás, e hoje em dia os meus já se viram bem sozinhos. Aliás, só estão dentro de casa porque está literalmente chovendo. Na maior parte das vezes eles estão buitenspelen (brincando lá fora), no parquinho (speeltuin).
Sozinhos.
Parquinhos e criando crianças no estilo free range
Eu já contei antes do primeiro dia que a mais velha passou a ir sozinha para a escola, com 9 anos. É também parte de criar saguis aqui na Holanda lidar (e estimular) essa independência de movimentos deles. E se você não faz, prepare-se para ser questionado (pelo próprio sagui, que vai começar a pedir e insistir).
Claro, sendo brazucas, a primeira coisa que nos ocorre é VOCÊ ENLOUQUECEU, SABE O PERIGO QUE... etc. Difícil viver no meio de violência sem desenvolver trauma. Porém. Porém.
Primeiro, a criminalidade é de fato baixa aqui na Holanda, mesmo na terrível metrópole de Amsterdam (estou sendo irônico - Amsterdam só é considerada uma terrível metrópole para os holandeses que não moraram na Vila Andrade em São Paulo. Eu morei). Não é zero, claro que não, e o risco existe sempre. Mas é, tipo, bastante baixo, e há toda uma cultura de independência aqui, e isso inclui as crianças. É totalmente comum crianças aprenderem a andar sozinhas pela cidade ou, ao menos, na sua vizinhança (ir ao "centro" é outra história). Muitos bairros aqui tem aquele feeling de... bem, de vila. De comunidade. Isso se reflete também no cuidado coletivo das crianças. Adultos não veem qualquer problema em dar bronca em filho alheio que esteja sem pais por perto (e as vezes, com pai por perto).
Nisso o mais novo saiu lucrando, porque pode começar a descer pro parquinho sem os pais mais cedo, já que vai com a irmã. E já começa a formar uma gangue de vizinhos que brincam juntos, e tocam campainha um dos outros e saem - meio como nos condomínios de SP, sem a parte do condomínio, na estrutura pública mesmo.
E por falar em estrutura pública, uma coisa bacana é que há parquinhos por toda a cidade. Os holandeses consideram (acertadamente) que brincar ao ar livre é essencial para o desenvolvimento da criança. Eles são grandes fãs do buitenspelen e há inclusive uma regulamentação urbana requerendo uma certa quantidade de parquinhos por bairro. Literalmente ao lado do nosso prédio tem dois, um para crianças menores (com tanque de areia e balanços) e um para crianças maiores (com quadra polieportiva, e brinquedo de escalar). Os nossos usam os dois. Em dias de sol, eles desaparecem e só me aparecem quando estão com fome (ou quando eu desço para chamar porque a janta está pronta, vem pra dentro, sim, agora, para dentro, eu sei, está na hora, vamos com isso).
Crianças e o clima na Holanda
Não que tempo ruim na verdade impeça a brincadeira. Sabe o que eu falei sobre treinar em tempo ruim na Holanda, na edição #23? Se aplica para crianças aqui, ao menos na concepção holandesa de criar filhos. Clima adverso é uma realidade inescapável da vida aqui, é melhor se acostumar.
Na escola, cansei de pegar as crianças encharcadas na saída porque a escola pôs pra brincar abaixo de chuva (e frio, lembra do frio). Ah, frio. Temperaturas negativas e neve? Saguizada tá na rua brincando, nem aí, horas, até virarem pinguins. Tem essa de está frio, vou ficar em casa não. De pequenos, eles saem na friaca e no molhado e no vento, exceto nos momentos mais extremos. Eles aprendem a lidar com o desconforto do clima, de um jeito ou de outro, porque essa é a realidade daqui.
Eu acho interessante esse lance de as crianças se adaptarem as realidades do local que moram. Foi assim comigo, onde eu ia para escola sozinho com 12 anos de bumba, e o Brasil mesmo nos anos 80 não era nenhuma Holanda.
Note que eu sei que a segurança da Holanda não é uma realidade da maioria dos lugares, e isso foi uma das coisas que me atraiu vir morar e depois criar filhos aqui. Quando morava na Vila Andrade, olhando pela janela, vi mais de uma pessoa morrer (uma com dois tiros, e outra numa moto que foi atropelada por uma van. Entrou na ambulância numa maca toda coberta). Eu morava a 500 metros do Shopping Jardim Sul.
Note também que eu não tenho ilusões de que a Holanda é um paraíso onde nada de mal pode jamais acontecer. Esse deslumbramento passa depois de uns meses morando aqui, e já moro desde 2007. Toda vez que meus saguis saem, eu sei que envolve risco. Toda vez que EU saio envolve risco, imagina para crianças.
É uma linha complexa essa de equilibrar independência e desenvolvimento com proteção e ajuda.
Lidando com os (nossos) medos ao criar filhos free range na Holanda
Claro que sempre queremos proteger nossos filhos para que não sofram problemas graves ou permanentes, isso é óbvio e natural e sensato e indiscutível. Claro. Mas… tem sempre que cuidar para não transformar proteger em super proteger, para não transformar poupar sofrimento em poupar todo e qualquer desconforto, ou confundir infância com total fragilidade. Uma coisa é não deixar criança se meter em situação de alto risco, não deixar se machucar à toa, não exigir que eles façam coisas acima da capacidade, e proteger nossos filhos do mundo cruel. É outra resolver tudo para eles e não confiar minimamente na capacidade deles lidarem com dificuldades. Uma coisa é minimizar e gerenciar risco, outra coisa é querer que eles nunca corram risco algum por mais remoto que seja. É uma coisa abrigar nossos filhos com roupas adequadas para o clima, é outra não permitir que jamais sintam qualquer frio.
Crescimento, em qualquer idade, envolve superar e lidar com desconforto.
Agora vamos lidar com outra diferença cultural de criar filhos aqui na Holanda.
Aprendendo a dizer não na Holanda
A real é que nós brasileiros não gostamos de dizer não uns pros outros. Pode reparar. A gente usa "talvez" como não e "sim" como "talvez" ou "sim". Se precisa mesmo sair um não, ele tem que vir acompanhado de uma grande justificativa, algum motivo insuperável e além do seu controle, algo externo que está te forçando a dizer não. Na Holanda não é assim.
Eu lembro que logo que chegamos na Holanda, com a Carla trabalhando numa empresa holandesa, ela me contou sobre como um colega havia pedido para ela fazer um plantão no sábado. Ela começou a se justificar...
- Não precisa se justificar. Se não pode, não pode.
E foi pedir para outro colega.
Outra história: no final de um af, na hora da despedida, com a mamãe já buscando a coleguinha aqui em casa, a minha filha, na época com uns 5 anos, deu algo de presente para a amiguinha. Ela olho para a mamãe dela e disse: "mas eu não quero isso, mamãe".
A mãe dela respondeu, com toda a naturalidade: "tudo bem, agradeça sua amiga e diga que não quer e devolva para ela dar para alguém que queira".
Sua experiência pode ser diferente da minha, mas tenho dificuldade de imaginar uma mãe ou pai brasileiro ensinando isso.
Eu não me importei: naquela altura, com a sagui na escola, eu já tinha bastante consciência das diferenças culturais, e até já achava o approach holandês mais prático e honesto.
Crianças aprendem a dizer não bem cedo na Holanda
Com a entrada da sagui mais velha na pré-escola, eu fui vendo ela se adaptando - no começo as crianças chegavam nela e pegavam os brinquedos, ou empurravam, e ela chorava. As professoras chegavam nela e diziam: "você disse pro amiguinho que não queria? Tem que dizer não."
Depois de um tempo ela já dizia não e a professora só interferia quando o coleguinha não respeitava. E a intervenção era sempre no sentido de "coleguinha, você ouviu a amiguinha? Ela disse NÃO. Você tem que respeitar o que ela está dizendo".
Entende? Não é "coleguinha, pare de fazer isso porque eu estou dizendo", mas "pare de fazer isso porque a sua colega disse não e você tem que respeitar".
E eu lembro que na minha época a gente era ensinado a chamar a tia (na época era tia, hoje mudou, né? Minha sobrinha diz "prôfe"), e aí a tia brigava com o coleguinha. Aqui eu vejo elas sendo ensinadas a elas mesmas se defenderem e dizerem claramente o que não querem, diretamente.
(E ao mesmo tempo, aos coleguinhas, a acatar o não).
Assim eu fui vendo a petizada aqui na Holanda aprendendo a se impor e a dizer não e entendi como que os holandeses adultos aprendem a dizer na lata quando não querem algo, sem se justificar.
E eu com eles...
Ah, quer outro choque cultural? Espera, antes eu preciso contar sobre...
Programas de TV para crianças na Holanda
Na edição #6 eu listei alguns programas de TV favoritos dos meus saguis aqui na Holanda e como assistir, o que pode ser útil não apenas como sugestão para os seus filhos, mas para você mesmo pra você praticar holandês. Muito me aconselharam assistir ao Jeugdjournaal (Jornal da Juventude) quando eu estava aprendendo a falar holandês. (para ser honesto, continuo aprendendo até hoje). Um tanto porque ele usa linguagem mais simples, o que facilita a vida dos saguis e dos seus pais estrangeiros, ao dar as notícias atuais.
E eles passam o Jeugdjournaal na escola também, e muitas vezes eu sou surpreendido com a participação informada da criança nas conversas sobre atualidades no café da manhã. Coisas como o navio de carga entupindo o canal de Suez, as queimadas na Amazônia, resposta global à pandemia, tudo apresentado de uma maneira que eles entendem, mas sem adocicar a coisa.
Outro programa que recomendo agora é o Klokhuis. Outra fonte de conversas informadas - a guria de repente me sai com comentários corretos sobre evolução humana, ou o princípio de como impostos funcionam, ou sobre a temperatura do corpo humano ou o que é o Ramadan. Na real, acho que muito adulto ia se beneficiar bem de assistir Klokhuis...
Que língua meus filhos falam aqui na Holanda
Uma das perguntas mais frequentes que recebo sobre criação de filhos na Holanda é: que língua eles falam? Tem até um post só dedicado para isso aqui.
Os saguis em particular transitam entre as duas línguas de maneira totalmente transparente, e nós deixamos rolar. Tudo isso está em mais detalhes na #13. O que eu não falei ainda é sobre como eles aprenderam holandês. Certamente não foi conosco e nosso holandês abrazucado no sotaque e erros gramaticais de pais que aprenderam depois dos 30.
O que a gente fez foi, primeiro expor a língua: os desenhos sempre foram em holandês. Depois, socializar as criaturinhas com os holandeses, o que foi importante também no aspecto de desenvolvimento, uma vez que não tinha priminhos e filhos de amigos em volta. Para isso, a gente inscreveu logo de cara na voorschool (pré escola). Isso é meio crítico ver logo, porque as vezes demora para ter vagas e rola uma fila de espera razoável.
Veja que você não é obrigado a colocar o filho na voorschool. E também é importante notar que a voorschool não serve como creche: é um período bem curto na manhã e nem todos os dias da semana. Meu trabalho é independente: blogueiro é um emprego instável, como a pandemia deixou bem claro ao extinguir essa minha fonte de renda, mas por outro lado... horários flexíveis. Eu podia ficar com os saguis. E a voorschool tem um trabalho mais pedagógico, e voltado a educar, e isso inclui ensinar a língua para os aprendizes de holandesinhos.
Durante a adaptação eu pude acompanhar de perto o trabalho feito pelas professoras (época pré pandemia, a gente podia fazer essas coisas loucas como conviver com pessoas que não moram com a gente). Além da língua, outros aspectos da cultura já começavam a ser passados. As musiquinhas, festas e folclore, a fábrica de holandesice já estava trabalhando. E isso só continua na escola. Não importa como eles entram, mas eles saem do outro lado bem holandeses. Eu por mim acho ótimo, uma vez que alguém precisava ensinar meus filhos a serem holandeses para morar aqui, e não teria como ser eu. Ao contrário, até aprendo com eles.
Alguns talvez ainda lembrem do videozinho no Insta Stories que fiz uns anos atrás da minha filha corrigindo minha pronuncia? Yeah. Rola isso e mais.
No fim, eu adoto a mesma postura com que vim para a Holanda: mente aberta e jogo de cintura. Ficar querendo criar a mesma vida que eu tinha no Brasil aqui é artificial, estressante e, no fim, um contra senso. Isso se aplica para criação de filhos, choque cultural e língua inclusos.
Eterno aprendiz
Muitos desses relatos foram escritos em pontos diferentes da nossa jornada como pais de filhos nascidos na Holanda. É um desafio constante — eles tem de aprender como serem boas pessoas, claro, mas também como serem holandeses se vão funcionar na sociedade holandesa. E eu, como brasileiro, tenho conhecimento limitado para ensinar eles isso.
O segredo é que eu resolvi aprender junto com eles, apoiando como posso. E ensinar que que aprender é um processo para a vida toda.
Forte abraço
Daniduc
PS. Eu ainda estou em pausa — mas resolvi passar aqui pelo Substack, logando pela primeira vez em quase um ano, para ver como estão as coisas. E achei esse post nos meus rascunhos, compilando dicas de várias edições anteriores e fases da vida saguizística aqui na Holanda. Faltava apenas alguns ajustes, o que fiz e estou publicando agora. Espero conseguir voltar a publicar regularmente com posts novos.
Se você quiser receber os novos posts assim que eu voltar, no conforto de sua caixa de email, se inscreve na lista:
Fico sempre feliz de ler um texto seu, Ducs, e saber que vocês estão bem. Sem dúvidas, eu teria adorado estudar numa escola Montessori, nível: adoraria recomeçar só pelo esporte, aprender melhor coisas que claramente não tive como aprender do jeito que me foi ensinado.