O real motivo de você odiar exercício (e como passar a amar) - Newsletter do Daniduc #36
E aí? Tudo bem contigo? Aqui na Holanda tá caindo uma tempestade monstro, mandando gente ficar em casa. E tá 13 graus. Ah, o aprazível verão holandês…
Nessa edição eu vou falar sobre exercício - porque eu, você e um monte de gente odeia fazer, e como passar a gostar de fazer (o que vai te fazer bem, porque de uma vez só você melhora a saúde e ganha um novo hobby para praticar e socializar). Já falo disso…
Primeiro deixa eu agradecer o imenso apoio que a última edição me trouxe. Se você perdeu (vou por link já já), nela eu compartilhei a história de porque eu parei mais de um ano com a newsletter (e como estou fazendo para superar e voltar). Muitas pessoas se emocionaram, e muitas deixaram apoio, bons desejos e carinho. Agradeço demais.
Porque deixei a história do que aconteceu comigo apenas para apoiadores (mesmo sem cobrar)
Eu deixei o post apenas para apoiadores da newsletter, mas minha ideia não era cobrar para ler o texto, por isso eu habilitei o período de testes de sete dias. Isso torna possível você ler sem pagar - basta iniciar o período de testes, ler e daí cancelar antes dos sete dias. Muitas pessoas fizeram isso. Aí você me pergunta: mas por que passar por todo esse processo então? Seria meu objetivo “ganhar” em cima de alguém que esquece de cancelar? Descolar apoios extras em cima da curiosidade das pessoas? Não né! Eu pus atrás do paywayll (fechado para apoiadores) porque eu não queria o texto público, aberto na Internet e indexado no Google pra sempre. Se você leu o post, pode imaginar porque. É muito cedo. Foi extremamente difícil escrever o texto. Eu nem sabia se conseguiria quando comecei, e o fato de eu ainda estar no processo de superar e lidar com os obstáculos que descrevi torna tudo mais frágil ainda. Bem possível que eu vá falando mais e mais sobre o assunto, mas nesse primeiro momento eu quis ter um controle maior de quem estava lendo, em vez de jogar aberto no mundão da Internet. Talvez algum dia, mas… baby steps.
Se você perdeu essa edição e quer ler, está nesse link aqui.
E por falar em apoio…
Ao memo tempo, eu recebi um grande número de pessoas que, mesmo podendo ler gratuitamente, fizeram questão de continuar no apoio, e por isso muito obrigado. Depois de um ano e meio de sumiço, e dois anos e meio depois que perdi minha fonte de renda (o blog), esse apoio é inestimável. A Newsletter permanece aberta para todos, mas eu quero ir acrescentando conteúdo extra para os apoiadores, como forma de agradecimento. Meio que no modelo do post sobre o submersível, onde tinha toda uma reflexão, aberta como sempre para todos, mas um texto extra sobre a exploração (geográfica e comercial) do Monte Everest, como bônus para apoiadores. Em uma edição futura estou pensando em fazer uma resenha sobre um produto de design holandês, e deixar como extra para apoiadores as imagens do roteiro que eu escrevi para um vídeo que filmei com a resenha, mas nunca foi finalizado. Sabe extra de DVD? A ideia por enquanto é ir fazendo algo assim para apoiadores. Talvez gravar alguns podcasts sobre o making of da Newsletter, esse tipo de coisa. Vou testando e vendo o resultado, e ajustando conforme.
Se você quiser e puder apoiar o meu trabalho, por qualquer período de tempo, eu (e todos da comunidade) agradeço muito.
Mas e se você quiser apoiar, ter acesso ao material extra, mas não pode apoiar monetariamente no momento, tem outra maneira. Você pode indicar a Newsletter do Daniduc para outras pessoas, e com isso ganhar um período de acesso. Clica no botão abaixo, pega o link e distribui. Se 2 pessoas se inscreverem, você ganha um mês de acesso para apoiadores. Se forem 4, você ganha 3 meses. Se vocÊ conseguir 20 pessoas, você ganha um ano. Dá para ver aqui. Isso é um recurso do Substack que resolvi testar. Se for um fail, eu desativo.
Agora vamos pro assunto dessa edição…
É possível gostar de se exercitar?!
Se você leu a história da minha parada, vai ver o impacto de eu ter sido forçado a parar de me exercitar. Minha saúde física e mental deterioraram rapidamente. Mas o mais difícil foi ficar privado de algo que eu amava. O que é bizarro, porque eu detestava. Tinha até orgulho de não fazer exercício, coisa mais inútil, ficar suando e sofrendo, quando posso estar lendo um livro enquanto tomo um gostoso café… que espécie de masoquista gosta de fazer exercício? Tipo, okay, as vezes tem que fazer, tentar perder peso, o médico manda, a gente faz, mas gostar?! Gostar??
O motivo de você não gostar de se exercitar
Se for pensar, fazer exercício é mesmo um treco meio absurdo: a evolução não tende a favorecer gastar calorias preciosas em movimentos que não visam obter mais calorias nem reprodução. É apenas natural (literalmente) que tanta gente não goste de se exercitar.
Mas se mexer, por outro lado, é essencial para sobreviver num ambiente onde calorias são difíceis de obter, e você mesmo pode a qualquer momento se tornar calorias para algum outro predador. para sobreviver, nossa espécie precisa ser extremamente em eficiente em obter calorias e em economizar as calorias obtidas. A pressão seletiva favorece quem se mexe bem, e ao mesmo tempo incentiva descansar sempre que possível, evitando gastar calorias desnecessariamente. Além disso, nosso corpo evoluiu para desmantelar sistemas que não estejam sendo usados. Além disso, seu corpo só conserta o que foi danificado pelo uso. Se não foi usado, ele deixa parado, decaindo. Músculos é um tecido caro energeticamente para se manter, então músculo não usado é desfeito. Se você está obtendo calorias sem usar, você não precisa. O problema é que nós não vivemos mais num ambiente assim.
O falso paraíso da comodidade extrema
Com o instinto instilado pela evolução de obter e economizar calorias, a humanidade fez o que faz melhor: otimizou e maximizou até o absurdo o processo todo, sem parar para pensar em consequências.
Por alguns milênios trabalhamos incansavelmente para criar um ambiente onde fosse extremamente fácil obter e economizar calorias. Mais que fácil, o máximo possível. Imaginamos esse paraíso onde ninguém precisaria fazer muito esforço e teria quantas calorias quisesse, ou até mais. E, em grande medida, conseguimos. Claro que ainda pessoas passam fome no mundo, claro que pessoas ainda trabalham duro fisicamente o dia inteiro em troca de miséria e mal têm o que comer. E nem é pouca gente. Mas esse ambiente da falta de esforço de abundância de calorias existe para um grande número de pessoas, e muito rei da antiguidade acharia que um simples supermercado com junk food barata é uma cornucópia de abundância absolutamente invejável. É fácil hoje passar o dia todo fazendo mínimo esforço, apertando botão em vez de subir escada, pisando em pedal em vez de sequer andar,e comendo as mais gostosas comidas com sabores potencializados e calorias que sustentariam uma família de caçadores coletores da antiguidade por dias. O tal “paraíso” foi, para muita gente, atingido. Mas era falso. Em vez de felizes, ficamos doentes, tristes e, apesar de viver mais, passamos a viver sofrendo.
Milênios não querem dizer muita coisa em termos de evolução humana. Mal mudamos da antiguidade, e nosso corpo ainda é otimizado para aquele ambiente original, onde para sobreviver precisávamos nos mexer o dia todo, andar em média 10km por dia, subir em arvore, cavucar, carregar coisas. Sem o estímulo do uso, nosso corpo começa a decair.
Nossos corpos armazenam fanaticamente cada caloria extra além do necessário, pois tem medo de não conseguir mais amanhã… ou por vários dias, como um cacto otimizadas para absorver e guardar cada gota de chuva no deserto em que vive que de repente é mergulhado no oceano, incha e explode. De repente, precisamos agir contra nossos instintos e passar a gastar as calorias, mesmo sem nenhum predador nos perseguindo ou necessidade de movimento para obter mais. Precisamos da resistência do ambiente para funcionar bem, e agora construimos um ambiente que além de não resistir, facilita ao extremo obter e economizar as calorias. Perseguindo nosso instinto evolutivo, conseguimos o que queríamos e achamos que servimos felizes e saudáveis para sempre. Em vez dias, adoecemos e ficamos infelizes
Danou-se. E agora?
Como passar a amar exercício
Como fazer para superar esse instinto evolutivo de poupar esforço e obter o máximo possível de calorias? A solução, felizmente, não é voltar todos a caçar e coletar por ambiente primitivos. O segredo é tornar o processo divertido, e não uma tortura necessária para atingir um objetivo finito e final. Você vai precisar se mexer o resto da vida, não apenas até atingir algum peso ou métrica ideal na sua cabeça. E se tem que fazer para sempre, melhor curtir a coisa. Tem que ser divertido. Como? Aqui vão algumas ideias.
Dica 1: Aprenda um esporte e meça progresso
Exercício não quer dizer necessariamente esporte. Esporte pressupões regras e uma estrutura, e muitas vezes um objetivo definido. Você pode sair para correr, por exemplo, sem medir nada, sem nenhum objetivo específico, só correr por correr, o que é um exercício totalmente válido, e pode ser inclusive divertido… mas para mim não era. A ideia de sair correndo por sair correndo me parecia inconcebível. Pulmão queimando, falta de ar nos primeiros metros, juntas doendo, porque alguém faria isso por esporte, que dirá por diversão! Vá lá, por saúde, okay, se a gente é obrigado…
Já que eu tinha de fazer algum exercício, melhor fazer um que eu poderia praticar sozinho, na minha, um simples, que não exigisse mensalidades, só um par de tênis e alguma rua ou parque.
No meu caso foi corrida, mas existem muitos outros esportes (e a maioria não envolve bola, cobrança de time e vários nem sequer coordenação motora fina - todos esses, desafios par mim). Mas você pode achar outro que te atraia mais. Mas continuemos com a história…
Enfim. Comecei a correr as 5 da manhã no inverno de Amsterdam, como um ser humano normal e ajustado, porque já que era pra sofrer… Peguei um app de corrida (na época o Nike Rua Club) que permitia programa para iniciantes e tinha corridas guiadas. E nessas corridas guiadas, eu fui descobrindo que não era só por um par de tênis e sair em desabalada carreira até os pulmões explodirem 45 metros depois. Descobri que o nosso corpo tem várias “marchas” de corrida, transmitindo o impulso de músculos e pulmões (nosso “motor”) para as pernas (“as “rodas”) em intensidade e força diferentes. Claro, se eu toda vez engatasse a quinta marcha, ia explodir os pistões em segundos, mas se eu diminuísse a marcha e fosse mais devagar, eu ia mais longe… por mais tempo. Olha só!
O app media meu progresso também e eu fui ficando viciado em aprender e ver os números e o que eles significavam, e, depois, em como melhorar.
E eu meio que fui empolgando com meu progresso - quando vi, tava fisgado. E adorando correr.
Porque esse é um lance importante sobre exercício: se você vence a resistência inicial, e se dedica a ele por tempo suficiente, você passa a sentir os benefícios, a melhorar seu condicionamento e habilidade ele passa a ficar… ouso dizer… divertido.
Mas eu sou meio ermitão (okay, introvertido). Eu sei que muita gente se energiza e se empolga socializando, então porque não socializar o exercício?
Dica 2: Socialize o esporte
Encontrar as amigas para um café, cinema ou papo é divertido. E encontrar as amigas para exercício? Dá para correr juntas, ou até mesmo só caminhar. Em muitas partes do mundo existe o Parkrun, uma “corrida” gratuita semanal de 5km, organizada por voluntário/as, que ocorre todo sábado em parques em diversos países. Não consegue correr 5k? Nem precisa. Muita gente anda. E sempre tem um/a voluntário/a que vai atras de todo mundo, para que ninguém se perca e ninguém seja tecnicamente o último colocado. E você nem precisa terminar se não quiser. Não tem amigas que queriam correr/andar um 5k na semana? Dá para fazer novas por lá mesmo, tem gente de todo tipo participando. Exercício é um excelente jeito de encontra pessoas novas e fazer novas amizades.
Não tem Parkrun no seu país ou cidade? E parque, tem? Dá para marcar um encontro lá. Ou só sair com as amiga para caminhar em qualquer outro lugar, num encontro regular marcado. Ué, é um jeito de manter contato real (em vez de apenas seguir na mídia social e dar like de vez em quando em algum post) e tornar divertido se exercitar. E mais barato que café fora toda semana.
Não rola caminhar? E dançar?
Dança é exercício, especialmente se você fizer regularmente. Você pode se juntar a um grupo de dança, ou aula. Uma, duas vezes por semana já é excelente! E dançar com um grupo é uma das atividades mais antigas da humanidade. Se você fizer o suficiente, te deixa forte e condicionada. E sempre dá para dançar em casa também. Sempre dá paraá dar um jeito.
Dica 3: Remova obstáculos e procure alternativas
Cidade muito suja, feia ou violenta para caminhar ou correr? Sem tempo? Ou grana para pagar aulas? Já procurou por vídeos no YouTube sobre calisthenics, ou exercícios de mobilidade e força usando somente o peso do corpo? Eu descobri um canal excelente que fala sobre mobilidade e força e não requer equipamentos (ok, é em inglês), o Strengh Side. Tem várias rotinas rápidas, de poucos minutos, e que dá para fazer em casa. Eu fiz várias, e minha mobilidade aumentou bastante.
Além disso, se você corre, deixe os tênis prontos na porta de casa. Separe a roupa antes. Se fizer academia, escolha uma perto de casa. O que você puder fazer pra te por em movimento, superar a inércia inicial, vale a pena.
Superada essa inércia, o incentivo de fazer o exercício se torna maior que a resistência; inércia é a tendência de ficar como está, e se você acostuma com o movimento, ele Com o tempo e progresso, você passa a se sentir melhor; é uma sensação muito gostosa estar condicionado e sentir confiança no seu corpo (espero voltar a sentir isso logo!). E uma hora você vai notar em vez de sentir birra de exercício, você passou a sentir falta!
Bem-vinda!
Dica de livro: Exercised, de Daniel Lieberman
Se o tema dessa Newsletter te interessou e você quer ir mais a fundo, recomendo ler o livro Exercised, do biólogo de Harvard Daniel Lieberman. Ele é o autor de outro best seller que li e me ajudou a entender muita coisa, A História do Corpo Humano, que recomendei em outras edições da Newsletter. Eu fiz faculdade de Biologia (ha décadas atrás), e acho infinitamente fascinante compreender os motivos por trás de problemas práticos que afetam nossa vida e saúde. Eu ouvi o audiobook em inglês (como você sabe, não consigo mais ler confortavelmente em papel, devido a problema de visão), mas ele está disponível em diversos formatos mas infelizmente não em português (ao menos não achei). Em todo caso, a História do Corpo Humano tem em português e vale também. (O link da Amazon é só para facilitar e não ganho comissão por ele).
Forte abraço
Daniduc
Nesse exato momento, tenho tentado praticar yoga em casa sozinha, já que a academia só recebeu muitas mensalidades e pouca presença minha. Estamos já no dia 11!
Um problema para a Thaís do futuro resolver é a questão da massa muscular no meu envelhecimento, mas por ora, tentando engajar novamente. E a yoga começa muito desagradável, aí lá pelo minuto 20 começo a sentir alguns prazeres soltos pelo corpo, e termino me sentindo excelente.
Os primeiros 19min são só uma aposta, um voto de fé nesse momento que alguma cascata hormonal se desencadeia.
OBS - Ducs, o link do história do corpo humano não chega em lugar nenhum.
faz anossssss que sigo tentando gostar de exercício e sim, percebo a diferença que faz na minha vida, até no humor. Mas ainda não encontrei nada que me animasse 100% ,sigo indo forçada. rs Abraços