Dicas para ajudar sua vida através de Perguntas e respostas - Newsletter #41
E aí, tudo bem contigo?
Uns anos atrás eu li o livro “Tribe of Mentors” do Tim Ferriss. O conceito do livro é simples: ele fez algumas perguntas (as mesmas) para um grande número de pessoas bem sucedidas ou com experiência de vida, e coletou as respostas num livro com “conselhos de vida curtos”. Eu achei a ideia interessante, e as perguntas bem feitas. O livro está cheio de gente top e bem sucedida, com alguns bons insights (e outros totalmente dispensáveis, mas o curioso é que ninguém vai concordar quais insights são essenciais e quais são dispensáveis, cada um forma a sua lista.
Eu, claro, não vou nunca aparecer em nenhuma lista de overacheivers do Tim Ferriss (exceto talvez se algum dia “Seguir muitos links da Wikipedia” for medida de super sucesso), mas resolvi responder as perguntas mesmo assim - é um exercício útil de auto conhecimento, e você pode responder também e trocar respostas com seus amigos. Eu vou mostrar as. minhas para você.
Se você preferir, pode ouvir a newsletter dessa semana. Eu gravei uma versão em áudio, que serve como um podcast, uma versão em áudio dessa edição. Você pode ler, ouvir ou os dois - elas não são exatamente iguais, não é um voice over, comigo lendo o que escrevi, mas um episódio de podcast com o mesmo tema. Fica a seu critério:
Que livro(s) você mais deu de presente na vida? Ou cite de um a três livros que influenciaram sua vida.
Eu tendo a dar livros que eu acho que a pessoa vai gostar, não necessariamente livros que acho que contenham lições universais. Eu dei de presente para a Ali Lickel o livro Vaxxers, sobre o desenvolvimento da vacina Astra-Zeneca contra COVID. O livro responde várias questões, tipo “como pode a vacina ser segura se ela foi tão rapidamente desenvolvida” e esclarece um monte de mitos sobre esse assunto. Era algo que eu e a Ali conversamos sobre, e ela tinha inclusive contado das cientistas para a filha dela (que ficou contente em saber que foi um time de cientistas mulheres que desenvolveu a vacina), eu gostei do livro, então foi. O internacionalmente famoso Erre estava querendo ler um livro de corrida de longa distância, para se inspirar a correr, então dei de presente In for the long run, do top corredor Damian Hall. Mesma coisa, eu gostei do livro e achei que a pessoa ia gostar também. E claro, aqui na Lista eu já dei montes de dicas de livros (aliás, a maioria tem tradução para o português).
Então vamos responder a segunda parte da pergunta, que acho que pode interessar mais pessoas. Livros estão influenciando minha vida desde criança, então existe bem mais do que três deles, e eu não saberia por em ordem de importância, cada um foi o mais importante em seu momento, e cada um foi apenas mais um fator de influência. Então vamos limitar a três que tiveram influência mais recentemente, e vou limitar também a não ficção, para abranger mais pessoas que possam querer ler.
A História do Corpo humano, de Daniel Lieberman. Olha, eu fiz biologia, e acredito que saber a base evolutiva da nossa espécie ajuda muito a entender nossa vida e situações. O autor desse livro é um paleontólogo e antropologista de Harvard, e pesquisador da evolução humana. Nesse livro ele explica muito bem a história evolutiva do nosso corpo, e eu acredito que entender nosso corpo é essencial para melhorar nossa qualidade de vida. Obviamente eu não estou menosprezando outros fatores que influenciam qualidade de vida, de saúde mental a segurança e acesso a recursos. Obviamente, Mas nós habitamos um corpo físico, e entender sua história e porque ele funciona de determinadas maneiras é fundamental. O nosso “hardware” literalmente influencia nossa vida. Por que adoramos comer açúcar e porque comer açúcar refinado em quantidade é ruim? Por que não gostamos de fazer exercício sendo que exercício é literalmente indispensável para a saúde (mental e física)? A resposta é evolutiva, e o livro de Lieberman faz um bom trabalho de dar uma noção dessas respostas.
O Poder dos Quietos, de Susan Cain - Outro livro que ajudou não só a me entender como um introvertido, mas a explicar para os outros esse aspecto tão fundamental da minha personalidade. “Como você é tímido se trabalha com o público?!”, me perguntam. Eu não sou tímido. Eu sou introvertido. “Você nunca quer sair ou ir em festas, você não gosta das pessoas?’ Eu super gosto, mas como introvertido, interação social me custa energia emocional, ao contrário dos extrovertidos, que se energizam com interação social. E por aí vai. O livro explica isso e também dá nuance e contexto a esse espectro de personalidades.
Resista não faça nada, a batalha pela economia da atenção, de Jenny Odell. Sem esse livro, acho que essa lista não existiria, e é bem possível que eu estivesse ainda no Instagram, estressado, atenção fragmentada, desesperançado pela falta de alternativas a rodinha de hamster do algoritmo, eterna a girar.
O livro faz uma cuidadosa jornada pela história da economia da atenção, como se desenvolveu, como ela age e os efeitos na nossa vida, explorando nossos instintos (que são uteis), passa para uma defesa da nossa humanidade e acaba virando um verdadeiro manifesto. É... impressionante. Uma hora eu desisti de grifar o livro... estava grifando capítulos inteiros.
Depois de processar o livro, resolvi fazer algo a respeito. E você está sendo parte disso.
Que compra de 100USD ou menos teve maior impacto positivo na sua vida nos últimos seis meses (ou recentemente)?
Vou transformar em 100 euros, porque, bem, eu moro na Holanda. Eu diria que foi um Altra Escalante 3, que me custou uns 90 e poucos euros (pode achar por mais ou menos, depende de ofertas e local). O que é um Altra Escalante 3? Um tênis. Um tênis com zero drop - ou seja, o calcanhar fica na mesma altura da ponta do pé. Você não anda de “salto alto”. Se você reparar, a imensa maioria dos calçados, masculinos ou femininos, têm um salto, e isso bagunça sua postura inteira, causando toda sorte de desequilíbrios, além de encurtar a panturrilha, deixando travada , o que por sua vez causa outros tipos de lesão. Além disso, o Escalante, como todos da Altra, tem um grande espaço para os dedos do pé. De novo, repara nos calçados tradicionais: todos eles espremem os dedos do pé juntos. Estamos tão acostumados com isso, e usando esse tipo de calçado a vida toda, que achamos que ter os dedos do pé comprimidos é o formato natural do pé. Não é! Procura no Google por fotos de p[es que andam descalços a vida toda. Você vai notar que os dedos do pé não são juntos, mas em forma de leque.
Por esse motivo também é importante perceber que a gente tende a usar calçados muito apertados, achando que ele tem que ficar justo no pé. Não tem! os dedos precisam de espaço para se espalhar durante o movimento natural da passada. Além de usar um tênis com formato mais largo que segue a forma natural de leque, eu aumentei um número inteiro! Os dedos tem que ficar soltos lá dentro para fazer seu trabalho! Eu costumava usar número 42 (numeração europeia, 40 no Brasil) e agora uso 43. Claro, sobra espaço, mas esse é exatamente o ponto!
A Altra não é, nem de longe, a única a fazer calçados com formato natural do pé. E os tênis dela tem acolchoamento, o que muitos puristas do movimento descalço criticam, dizendo que o ideal seria usar calçados sem nenhum. Porém, após uma vida de calçados tradicionais, meu pé ainda não é forte o suficiente pra andar sem nenhum acolchoamento por longas distâncias. Com o Altra Escalante, eu estava caminhando uma média diária de mais de 13 mil passos todos os dias por três meses, e meu pé já começou a mudar, espalhando os dedos. Meu tendão de Aquiles ficou mais flexível.
Aviso: o meu Altra Escalante criou um furo na parte de cima após 400km de uso. Eu aposentei o par com 800km. E agora troquei por um Altra Superiore, que tem ainda menos acolchoamento que o Escalante. E se você não gostar dos modelos da Altra, procure por outras marcas com essas características.
Como um fracasso, ou aparente fracasso, te preparou para um sucesso posterior?
Fracassos, tenho incontáveis, muito mais do que sucessos. Na verdade eu meio que acho que fracasso é o estado padrão das coisas, e sucessos são transientes e raros, extraídos com muito custo e sacrifício, se soubermos aproveitar as lições e oportunidades.
Eu mencionei que estudei Biologia. Mas nunca terminei a faculdade de Biologia. Em determinado ponto, já atrasado para me formar, eu resolvi fazer mais uma última tentativa. Por uma mudança na grade curricular, uma matéria do primeiro ano, que eu já havia feito, foi transferida pro último ano, com alguns alterações, por que significava que eu deveria cursar de novo se quisesse me formar. A professora lembrava de mim do primeiro ano.
Eu estava numa aula de laboratório, e conversando com um amigo do meu grupo, eu comentei que essa era minha última tentativa de me formar, se não conseguisse, eu abandonaria a Biologia. A professora que estava circulando pelo laboratório interviu:
— E não vai ser nenhuma perda para a Biologia.
Aquilo doeu. E de fato, eu abandonei a Bio. Fracassei. Mas ela estava certa, e me desestimular a fazer a faculdade no fim me ajudou, porque acabei seguindo por outros caminhos, nunca carreira que tenho mais talento e sucesso, além de mais realização profissional. Eu deveria ter desistido da Biologia muito antes.
(Mas não antes de ter encontrado o amor da minha vida, claro. Eu sempre digo pra ela que Biologia foi minha faculdade “espera esposa”. Hah. Humor autodepreciativo, eu curto).
Se você pudesse, metaforicamente falando, ter um Outdoor gigante em qualquer parte com qualquer coisa nele, passando uma mensagem para milhões (ou bilhões) de pessoas, o que você poria nele e por quê? Pode ser algumas palavras ou um parágrafo, ou uma citação de alguém.
O OBSTÁCULO É O CAMINHO.
Okay, sim, é um clichê, título de livro de auto ajuda, modinha estoica, whatever. É verdade. A gente tende a achar que a vida segue um caminho perfeito, e obstáculos surgem para nos impedir de atingir os nossos objetivos, ou bloquear nosso caminho. E não é. A vida é resolver problemas, não existe uma vida sem problemas, nem nunca vamos resolver todos eles. O Obstáculo não está bloqueando nosso caminho, ele é o caminho. Escalar, desviar, passar por baixo, procurar alternativas, esse é o padrão, esse é o caminho. O pensamento de “tudo seria perfeito se não fosse por isso ou aquilo” é uma ilusão, uma fonte de frustração desnecessária e uma maneira de atrasar nossa vida. Nada nunca será perfeito, independente disso ou daquilo. Ou como disse meu pai quando eu, já adulto liguei para ele para me queixar de um emprego terrível, que eu detestava, me disse: “a vida é luta, guri”.
Eu deixei o emprego um pouco depois e me virei pra achar uma alternativa.
O novo emprego também tinha problemas. Virei blogueiro, que amo ser, mas tem problemas, que gosto de resolver. Mas tem.
Minha visão não é perfeita e nunca mais vai ser. Ainda não e certo se vou mantê-la. Esse obstáculo não está bloqueando meu caminho, esse obstáculo e o meu caminho. Eu vou trilhar, eu vou passar por baixo, eu vou escalar, eu vou ralar os dedos e esfera os cotovelos, e cair e chorar, mas eu vou continuar porque eu entendo que esse obstáculo É O CAMINHO. Não tem outro caminho, Se não fosse esse, seria outro obstáculo. E eu tenho outros também, meio sérios (se você leu a minha história você sabe). Esses obstáculos? Eles são o caminho. É melhor eu achar um jeito através deles, ou com eles.
A vida é resolver problemas, até o fim.
E se quer saber, acho que a pior crise existencial que alguém pode ter é uma vida sem problemas. Mas isso é uma questão teórica, nunca saberei se essa teoria é verdade, porque uma vida sem problemas NÃO EXISTE! Não existe um caminho sem obstáculos. Se vira através deles, porque esse é o seu caminho.
O OBSTÁCULO É O CAMINHO.
Qual foi um dos seus investimentos na vida que mais valeu a pena (pode ser investimento de dinheiro, tempo, energia)…
Aprender inglês fluente. Aprender inglês abriu o mundo para mim. Ah sim, o mundo tem muitas línguas, tem trilhões de coisas legais e interessantes no mundo que não estão em inglês. Verdade. Mas quando alguém quer compartilhar uma dessas coisas com o mundo todo, ele vai por em inglês. Inglês, querendo você ou não, a língua franca do mundo hoje. Já foi latim (que estudei também, a propósito) e já foi francês (que não falo), pode ser que um dia seja chinês ou espanhol, mas hoje? Inglês. O mundo de conhecimento que você tem acesso em inglês hoje é absurdo, e é um triste desperdício ficar de fora disso.
Já tive dinheiro para jantar em restaurante Michelin de três estrelas e já precisei andar a pé porque não tinha trocado nem pro ônibus, literalmente menos do que zero na conta bancária, dinheiro vem. vai, mas saber inglês nunca me falhou nem me atrapalhou, e me abriu portas, que seja de conhecimento. Aconselho a todos.
Quando casei com a Carla, a gente tinha algum dinheiro mas não muito. Na época, eu ganhava bem mais que ela. Recém casados, contando as moedas, ela disse que iria parar com as aulas de inglês. Eu recusei, disse que daríamos um jeito, mas ela tinha de continuar. Dinheiro em conhecimento nunca é dinheiro mal investido, eu disse. Apertamos o cinto, cortamos despesas, e ela continuou. Anos depois, surgiu uma oportunidade de trabalhar na Holanda, mas pouca gente estava aplicando, porque exigia inglês fluente.
Aqui estamos.
Nos últimos cinco anos, no que você se tornou melhor em dizer não para (distrações, convites etc)? Que novas percepções ou abordagens ajudaram?
Eu aprendi a proteger melhor minha saúde, física e mental. isso inclui dizer muitos nãos. Eu aprendi que produtividade exige descanso e recuperação. Produtividade constante é, primeiro um mito e segundo, destrutivo. Mito porque não existe, destrutivo porque se você tentar atingir isso, vai se destruir rapidamente. Aprenda a dizer não e aguentar a pressão externa para perseguir esse mito destrutivo.
Isso vale para excercício também. Exercício é um stress no seu sistema, e o corpo vai consertar o estrago feito por esse stress, e nesse conserto, ele torna o corpo melhor. Só que o corpo só faz esse conserto quando não está sob stress. Se você não descansa, o conserto nunca é feito, e o dano se acumula, e o exercício passa a ser prejudicial. Exercício é fundamental, assim como o repouso e recuperação, como no trabalho e produtividade.
A vida é um ciclo de atividade-repouso, mas agimos como se fosse possível ser atividade constante, e o repouso é visto como desperdício, problemático, algo a ser curado, quando é parte fundamental do processo. um não existe sem o outro. Você te, que acolher e proteger sua recuperação da pressão constante.
Quando você se sente sobrecarregado, estressado, ou temporariamente sem foco ou ansioso, o que você faz?
Eu saio para caminhar. Caminhar me salvou de crises sérias, ataques de ansiedade e pânico, crises agudas de depressão, caminhar me dá ideias, eu componho textos caminhando, eu observo, caminhar é meditação em movimento. Corrida também tem esse efeito, mas corrida exige mais, e nem sempre é possível. Caminhar é vida. Não fique parado. Ponha o corpo em movimento, e a mente acompanhará. Por você, mova-se.
Apoio
Muito obrigado por ter lido a minha Newsletter e espero que tenha sido interessante ou útil de alguma maneira. Se você puder apoiar para manter esse trabalho, eu ficaria muito grato. Além de ajudar o futuro da Lista, você vai ter acesso a alguns conteúdos extras, como:
Você também pode ajudar, e muito, a Lista a continuar compartilhando com alguém. Eu resolvi apostar tudo na divulgação boca a boca dessa lista, acreditando que bom conteúdo não precisa seguir fórmula de algoritmo para se essa;har e atingir as pessoas, então conto com você.
Seja qual for a forma de seu apoio, recebe meu muito obrigado e…
Forte abraço
Daniduc
Gostei bastante das reflexões e tb do formato podcast! Mas estou curiosa pra ouvir mais historias holandesas via podcast hehehe sucesso!