E aí, tudo bem contigo?
Lá pelo fim de 2021 eu resolvi sair das principais mídias sociais: Instagram, Facebook, e, um pouco depois, Twitter (TikTok nunca tive). Saí também do WhatsApp. Okay, não sei se o Zapi é mídia social, mas é parte do negócio do Tio Zuck, o que para mim foi motivo o suficiente.
Vou te contar os motivos que me levaram a sair e quais os efeitos que essa decisão teve na minha vida pessoal e profissional. Profissional? Ah é né? Tem esse elefante na sala, sentado na poltrona com as pernas abertas, cerveja na mão, pegando salgadinho com a tromba e dizendo “qual a boa de hoje, buuuuurp”:
Eu sou criador profissional de conteúdo. Sim, tive de parar por motivos de saúde (física e mental), mas espero ser uma pausa temporária. E minha decisão de sair das mídias sociais veio antes dessa licença médica. Um dos meus primeiros posts na Newsletter foi sobre porque parei de fazer Stories. E aí? Dá pra criar conteúdo profissionalmente sem mídia social?
Dá.
Mídia social não é plataforma de conteúdo; é plataforma de vendas
Mas espéra aí, eu sou criador de conteúdo e pode-se dizer que mídia social era meu trabalho, ou parte essencial do meu trabalho. Com dezenas de milhares de seguidores/inscritos/assinantes (se somar todas as plataformas devia estar próximo de 100 mil), abrir mão de um público desses é suicídio comercial, um tiro no pé. Verdade, verdade. Mas…
A primeira coisa que a gente tem que perceber é que mídia social não é plataforma de criação de conteúdo, mas sim de marketing digital e vendas. Se o seu objetivo é vender algo, (incluindo seu serviço ou, vá lá, uma ideologia), mídia social é uma das ferramentas mais eficientes para isso. Agora, se você quer criar conteúdo e conseguir um público interessado na sua criação, mídia social é o lugar errado. Se você está querendo comprar ou vender, você está usando mídia social parta o que ela é feita, e vai dar certo. Agora, se você está querendo criar ou consumir conteúdo, a tensão de usar uma plataforma de uma maneira que ela não foi feita para ser usada vai estressar.
E apesar de ter vendido muito ingresso e tour em Amsterdam, eu nunca quis ser um vendedor. Eu vendia como uma maneira de financiar e viver do meu conteúdo, mas a graça, o que me motiva sempre foi criar, não vender. Eu sempre disse que eu vendia para poder fazer o Ducs, não fazia o Ducs para vender.
(Nada de errado com vender, inclusive fiz, bem até, mas minha paixão é a criação, não vendas).
Eu queria falar também de outros assuntos, e idealmente passar a viver diretamente do meu conteúdo, não necessariamente da venda em grande escala de ingressos. A ideia era ir fazendo a transição aos poucos, aí veio a pandemia e paralisou o turismo de qualquer maneira…
(E aí tive que parar o trabalho todo, mas aí é outra historia para outra edição).
Okay, então eu não queria vender. E também não queria comprar. E acredito que mídia social tem um efeito deletério na sociedade e relações humanas, e na nossa saude mental. A pandemia tinha cortado minha fonte de renda de qualquer maneira. Eu pensei, okay, hora de sair das mídias sociais. E saí.
Ótimo….
Well… shit. E agora?
Criando e recriando relações sem as mídias sociais
Okay, se mídia social não é plataforma de conteúdo, o que é então? A velha tríade: rádio se você quer falar, televisão se você quer mostrar e revista se vocÊ quer escrever. Ou, nos dias de hoje, seus equivalentes modernos, podcast, vídeo e blog. Eu queria escrever, então blog era a escolha natural. O problema é conectar e manter contato regular com seu público, isso é meio que parte essencial de vier do conteúdo. Ai entrou a Newsletter que nada mais é que o bom e velho blog entregue na sua caixa de correio. Eu comecei montando a plataforma toda de maneira independente (desde instalar e configurar o blog, criar os botões de apoio, buscar plugins para conteúdo exclusivo e… e ai veio o Substack com tudo isso já pronto. Aparentemente, não fui o único a ter esse desejo. Bom sinal. Adotei.
Agora eu tenho controle sobe a minha mensagem - eu não preciso agradar (ou pagar) o algoritmo de vendas para entregar um conteúdo que não quer vender nada, a decisão de como e quando publicar veio para mim, e a decisão de como e quando ver o que produzo foi direto pra você. Eu escrevo e quem gostar lê, e puder, apoia.
Aliás, não encare o botão de like ou dislike como uma mensagem ou manifestação sobre a qualidade do conteúdo, mas como um botão para treinar o algoritmo: like quer dizer "me mostre mais disso", dislike quer dizer "quero ver menos disso". É mais um botão de ajuste do que qualquer outra coisa.
Eventualmente, a ideia é ter apoiadores suficiente para voltar a ser uma renda. Agora é continuar e ver no que dá. (Licenças são parte da vida e do processo)
Tá, tá, mas eu não sou apenas criador de conteúdo. E na minha vida diária, domestica, não profissional… quais os efeitos na minha vida de tanto tempo sem mídia social?
Sem mídia social, diminuiu meu FOMO (Medo de ficar por fora)
Bizarro né? Era de se esperar que a ansiedade de ficar de fora, ou por fora aumentasse. Mas no meu caso foi o oposto. Sem ser bombardeado constantemente por informações, tendências, modinhas e de maneira geral postagens no estilo “minha vida é maravilhosa e a sua não”, aos poucos eu fui desapegando.
Na real, para manter a roda de vendas girando, m’dia social precisa estar sempre prendendo sua atenção, é essencial ela fazer você sentir medo de ficar por fora e perder o que tá rolando, ficar de fora, explorando nosso medo atávico de ser expulso da tribo. E quando eu saí da mídia social, eu senti um alívio dessa pressão, e o medo diminuiu. Se for ver por esse lado, não é tão bizarro assim diminuir o FOMO quando eu saí das mídias sociais. É até lógico. Eu senti isso em primeira pessoa.
Mas e aí? Eu não fiquei de fora?…
Sem mídia social, eu não perdi contato com quem importa (nem mesmo quando sumi por motivos de saude)
Eu não tenho muitos amigos mas eu tenho excelentes amigos.Quando eles querem saber o que tá rolando na minha vida eles mandam email, mensagem, ou até ligam. E não desistem de mim, mesmo quando estou machucado, ou encrencado demais pra responder, porque sabem que não desisti deles, estou apenas temporariamente fora do ar. Mas eu tenho que deixar claro quem quando fiquei fora do ar, não foi porque eu sai das mídias sociais.
Eu falo até hoje com amigos de adolescência, sendo que cada um de nós três está em um continente e fuso horário diferente. Eu estou falando contigo agora. Se eu percebo em determinado momento que eu perdi contato com uma pessoa que lembrei que queria falar e saber o que tá rolando na vida dela, é só ir atrás, que eu acho. Quem se importa acha um jeito de se falar e a Internet é bem mais ampla que Insta, face, Twitter. E tem alternativas até mesmo ao onipresente WhatsApp (eu optei pelo Signal e o Messenger da Apple - pra quem tem iPhone, ele funciona via internet, não SMS, e tem um monte de recurso bacana).
Aqui, eu tenho que lembrar de novo: assim como aoutras mídias sociais, se o seu objetivo é vender coisas, aí WhatsApp é de fato uma necessidade, mas já expliquei que não é esse meu objetivo. E para manter contato com pessoas, ele não é essencial.
Mas e ficar de fora dos acontecimentos? Rolou?
Sem mídias sociais eu não fiquei desinformado
Okay, eu não acompanho minuto a minuto os memes do TikTok, mas a verdade é que, mesmo não sendo grandes perdas, até isso não desliguei totalmente, porque vários memes de mídia social acabam chegando até mim de outras maneiras (amigos repassam ou comentam, vídeos no YouTube referenciam, alguns até saem nas notícias, tempos depois).
Por falar em notícias: eu assino um par de jornais que mandam notificações, além de briefings diários. A principal diferença pra quando eu recebia informações em tempo real em mídia social é que diminuiu o ruído. As notícias chegam mais completas e embasadas até mim, e tenho tempo de formar minha opinião sem aquele influxo constante e desencontrado de notícias, todas já chegando com milhões de comentários indignados, tudo exigindo uma reação imediata (vai ficar em cima do muro? isenção!) e instintiva. Dá para ler, pesquisar, entender um pouco melhor.
Outra coisa que notei é que a bolha de informação ainda existe, mas agora ela está muito mais sob meu controle e não sob controle do algoritmo. Eu escolho as fontes de informação e tenho acesso a elas. Na mídia social você pode seguir quantos jornais e fontes quiser, mas ele aos poucos vai aprender suas preferências e só te mostrar o que reforçar sua visão de mundo. E ai de você se quiser introduzir nuance em qualquer coisa, SEU ISENTÃO!
Em mídia social, todo acontecimento é uma emergência. Tudo exige uma reação emocional imediata/ Nada tem contexto ou nuance. A realidade é colorida, mas a mídia social chapa tudo no preto OU no banco, escolhe um AGORA!
Sim, eu ainda estou numa bolha. Todo mundo está. Mas ao menos agora eu tenho mais influência sobre o tamanho e formato dela.
Okay, eu tinha medo de ficar por fora, eu tinha medo de perder contato com amigos e nada disso aconteceu. E aí? Sem mídia social quer dizer que virei um dínamo de produtividade, com capacidade de atenção focada 100%?
Bem…
Sem mídia social eu não fiquei “mais produtivo”, mas minha concentração melhorou
Cara, eu acho que produtividade é super estimado. Okay, okay, ser produtivo é bom, saque esse negócio de ser sempre produtivo o tempo todo é mito, com consequências nefastas. É impossível e indesejáveis ser produtivo constantemente, pro infinito. Não é assim que a natureza funciona, não é assim que as pessoas funcionam.
Nós funcionamos em ciclos de estímulo-descanso-resultado. Sem o estímulo do exercício você não constrói músculo, mas você constrói o músculo no descanso pós exercício. Sua mente não constrói músculo, mas constrói pensamentos, e funciona no mesmo princípio. Dormir 4 horas por noite resulta em trabalho medíocre e morte prematura, se levado por muito tempo. Sistemas biológicos só conseguem persistir nesse planeta se regenerando. E não se produz durante regeneração, daí os ciclos, a alternância produção/regeneração.
E a piração da mídia social te dá estímulo constante, e cria esse ilusão que todo mundo está sendo produtivo e competindo enquanto você “perde tempo” se regenerando, descansando…. quando a interrupção constante é que faz você perder tempo de regeneração mental.
Eu parei de levar celular pro banheiro. Na real, parei ate de levar livro. Eu vou, faço o que tenho de fazer e saio.
Isso não quer dizer que eu não bunde na Internet. Eu não virei um monge em retoirou au ago assim. É totalmente possível procrastinar sem mídia social, sem internet até. Tenho certeza que até Gluk, o home das cavernas, procrastinou alguma hora, enrolando pra fazer tinta pra desenhar nas paredes.
Eu vejo vídeo do YouTube (que tem seus problemas, mas ainda tem a vantagem de criar uma narrativa de mais de 30 segundos, mesmo que ele queira muito virar o Stories, digo, TikTok, digo, Shorts. Whatever). Eu jogo puzzles de palavras diariamente. Eu escuto livros (visão não me permite ler livro de papel mais), especialmente quando estou caminhando. Mas as vezes a narrativa cansa, e só caminho mesmo.
Não, não fiquei “mais produtivo” no sentido mítico de “trabalhe dure e vire um bilionário vendendo sua start up pro Google” ou escreva um livro de 500 mil palavras em um mês. O que aconteceu é que sou menos interrompido ao longo do dia (bom, meus filhos ainda me interrompe com um fluxo estável de PAPA, PAPA, mas isso é parte). Os estímulos são outros, mais espaçados. As ideias vem, mas elas tem mais tempo pra se desenvolver, sem ter que produzir algo na hora ou logo, porque senão alguém vai fazer primeiro (e corre pra fazer mais porque já copiaram sua ideia e agora você tem que fazer outra e…)
Para, respira.
Desvantagens de viver sem mídia social
Olha, mídia social é divertido. Não vou dizer que não é, eu me diverti muito. Usei muito, fiz muito, segui genre bacana e criei uma audiência dos quais estão comigo até hoje. Até vender eu vendi. As vezes vejo algo interessante ou bonito na rua, ou me ocorre uma idea e e me da aquele instinto de contar pra alguém na hora, e mídia social permite isso, e é um meio fácil de todo mundo compartilhar e se divertir (e até aprender) junto.
Mas se é pra aprender, aprendi que nem sempre na hora é o melhor jeito e certamente não é o único. Dá pra anotar, ruminar, relacionar e ai eventualmente, num momento mais calmo. compartilhar. É gostoso também ter o que falar quando a gente se reencontra, em vez de todo mundo continuar grudado no celular atualizando, durante o encontro, como está divertido se encontrar, em vez de curtir as pessoas que estão lá.
Eu não quero te convencer a sair de mídia social. Se você curte, você curte, e só você sabe se o treco ajuda ou atrapalha sua vida e em que medida. Meu objetivo era reportar o meu caso, para você ter uma visão de fora num prazo mais longo, pra ver que sair de mídia social pode não ser a sua escolha, mas não é impossível.
Espero que tenha sido util.
Forte abraço
Daniduc