As historinhas que conto pros meus filhos: A Menininha que gostava de foguetes
Cansado no fim do dia, eu dizia para minha filha dizer sobre o que ela queria ouvir uma historinha.
— Uma menininha que gostava muito de laranjas.
Suspiro. Logo meus filhos perceberam que as historinhas dos livro eram mais divertidas quando o papai usava as próprias palavras, e dali foi um pulo para eles notarem que o papai podia inventar historias novas toda noite e eles não precisavam ouvir historinha repetida. E o cérebro cansado do papai, já no fim do dia, buscava desesperado novas ideias diárias para as historinhas.
O tema da “menininha que gostava muito de…” durou um tempo. Na época, a minha particular menininha tinha… uns 4 ou 5 anos. Um dia ela pediu uma historinha sobre uma menininha que gostava muito de foguetes. Ah, foguetes, uma das paixões herdadas e compartilhadas entre pai e filha, o tema do espaço era um que sairia fácil.
Foi um sucesso, ela amou. E pediu mais. Não a mesma, mas mais da Menininha. De volta ao problema de inventar histórias diárias diferentes. Para facilitar o trabalho do cérebro em low battery, inventei uma estrutura.
Na historic original, que acabou virando o episódio piloto da série, a menininha construía um foguete e salvava três astronautas que estavam presos na Lua, porque o foguete deles deu problema. O planeta se mobilizou, mas a Menininha, que sempre gostou muito de foguetes, ja tinha o seu próprio construído, e se lançou ao espaço num resgate ousado, a frente dos esforços da NASA e outras agências espaciais, e usando seus conhecimentos auto didatas, consertou o foguete dos pobres astronautas ilhados (ou seria lunissados?).
Quando a pequena sagui pediu repeteco, eu coloquei a NASA chamando a agora famosa Menininha para liderar uma missão de exploração pelo sistema solar, no comando de sua mais avançada nave. A missão seria lançada a partir da base internacional lunar. E assim, eu teria um tema — durante o dia eu vasculhava a wikipedia sobre o próximo planeta (ou lua, ou corpo celeste) interessante, e colocava a Menininha numa solitária aventura por lá.
Solitária? Oras, claro que não. Logo no primeiro episódio, “Escapando de Vênus”, ela encontra um cachorrinho venusiano. Bem, ela encontra depois que infelizmente uma colisão inesperada com um asteroide desgarrado causa avarias na nave e uma descida desesperada na atmosfera venusiana, onde ela consegue reparar os estragos com seu kit de ferramentas (já demonstrado no episódio piloto do resgate dos astronautas). Mas, vocês vejam só, a colisão causou um vazamento nas câmaras de combustível, e o foguete não pode decolar. Nada funcionava na nave, nem o rádio para ela pedir ajuda para a NASA.
Sem ficar parada, a intrépide menininha sai para explorar a paisagem extraterrestre, quando ouve…
— Que é “inteperde”, papai?
— Hm? Quer dizer ficar firme diante de um perigo.
— Corajosa então?
— Isso.
— E daí, que aconteceu?
Bem, ela usando seus instrumentos, ela foi cautelosamente se aproximando…
— Que é cau… câte.. cale…
— Cau-te-lo-sa-mente. Com cuidado, ela se aproximou do barulho, cada vez mais perto, na escuridão da noite venusiana…
(Menininha se escondendo embaixo das cobertas)
— …quando de repente… AIN!
— QUE ERA????
Era um cachorrinho venusiano.
— FOFO!
— Mas ele estava preso, com sua patinha embaixo de uma grande pedra. Percebendo o apuro…
— Que é apuro?
— Problema. Percebendo o problema, a Menininha começou a pensar no que fazer. Ela não podia explodir a pedra, porque podia machucar o cachorrinho. Mas ela pensou num plano. Ela voltou para sua nave, e pegou um monte de corda. Amarrando a corda pela pedra, ela passou a outra ponta pelo galho de uma das árvores de Vênus, e puxou.
— Que forte!
— Sim, a menininha é super forte, mas quando você faz assim de passar a corda por algo como um galho e puxa a outra ponta, fica mais fácil de puxar. E puxando, ela moveu a pedra o suficiente para o cachorrinho tirar a sua patinha.
Ele ficou super feliz, deu várias voltas em torno da menininha, mas ele estava mancando. Pegando seu kit médico, a que ela sempre trazia na sua roupa de astronauta, ela fez um curativo para a patinha do cachorrinho.
Voltando pra sua nave, a menininha ainda estava ponderando o que fazer. Ponderando quer dizer pensando.
— Tá.
Quando ela estava ponderando como iria achar combustível pra nave dela, ela viu o cachorrinho voltando. El estava super feliz, e ficava rodeando a menininha, como se quisesse dizer algo. WRIF. WRIF.
(Eu latindo como um cachorrinho venusiano. Me dá uma esconto, era tarde e eu estava exausto).
A Menininha logo entendeu que era para seguir o cachorrinho. Os dois foram correndo pela paisagem de Vênus, sob o céu amarelado do planeta. Assim eles foram até chegarem na entrada de uma caverna, bem escura.
— Ah não!
A Menininha olhou para a caverna mas antes de entrar, ela usou ops instrumentos de seu traje de astronauta…
— Traje?
— Roupa de astronauta, e viu no resultado que a caverna não estava vazia.
— AH NÃO!
— Ah sim. O Cachorrinho continuava a latir
— WIRF! WIRF!
— Isso, wirf, wirf, apontando pra caverna. A Menina resolveu que devia ser importante. Ligando suas luzes, ela corajosamente entrou na caverna…
(Cobertas de novo)
Cautelaosamente…
— Com cuidado, né papai?
— Isso, você lembrou. Cautelosamente, a menininha foi avançando na caverna. Tudo escuro, e tudo bem quietinha.
— Shhhhhhh…
— Shhhhhh. Olhando para os lados, sempre atenta, a Menininha não conseguia ver nada, apesar das luzes do seu traje estarem ligadas no máximo. Respirando devagar, ela notou no escuro duas luzinhas fracas, mas fixas, apontando diretamente para a menininha…
— NÃO!
— A Menininha percebeu que eram dois olhos.
— CUIDADO! SAI DA CAVERNA!
— A Menininha, recuou mais uma vez, e desligou as luzes do traje. O escuro agora éa total, menos os dois olhos, ainda parados na direção da menininha. E ela notou que eles estavam ficando maiores….
(Cobertas)
—…Maiores, se aproximando da Menininha, que ficou firme no lugar… quando os olhos estavam bem grandes, quase em cima dela…
FLASH! A Menininha acendeu todas as luzes do traje dela, revelando um imenso Urso Venusiano, que ficou totalmente surpreso com as luzes, sem enxergar nada porque os olhos deles estavam acostumados com o escuro! Rapidamente a menininha usou a pistola de raios imobilizastes e fez o Urso fiar congelado no lugar!
— AHHH! Mas o urso não machucou né papai?
— Não, claro que não. Ele só ficou paralisado por um tempo, depois ele vai voltar ao normal. Mas até lá, a Menininha já ia ter saído da caverna e ia estar bem longe.
— Ah tá.
— Mas antes disso, o cachorrinho entrou na caverna latindo, wirf, wirf, e com tudo claro com as luzes, ele foi atrás de uma pedra na caverna. A Menininha seguiu o cachorrinho, e atrás da pedra ela achou…
— Outro urso?!
— Não. Uma outra pedra. Mas essa brilhava no escuro. A Menininha usou os instrumentos dela e descobriu que a pedra er radioativa, ela tinha energia! Pensando rápido, a Menininha fez uns cálculos e concluiu que poderia usar a pedra para dar energia pro foguete dela e assim escapar de Vênus.
— Oba!
Ela levou a pedra de volta pro foguete, e fez os ajustes que ela precisava, até ficar pronta para partir. Mas não sem antes dizer tchau e muito obrigada para o cachorrinho, que tinha levado ela para onde estava a pedra. Mas na hora de encontrar ele… cadê o cachorrinho?
— Cadê?
Ela não achou. Nem usando os instrumentos ela encontrou o cachorrinho. Ela ficou um pouco triste, mas ela precisava ir embora… Ela subiu na nave e, com um último olhar para a paisagem de Vênus, esperando talvez ver pela última vez o cachorrinho antes de partir, ela suspirou e fechou a porta.
(Bico)
Ela apertou os cintos de segurança, ligou todos os sistemas. A nave funcionava perfeitamente com a energia da pedra. Ela começou a contagem regressiva…
— Vijf… vier… drie… twee… een… VUSH!
— VUSH! A Nave decolou com um grande estrondo…
— ?
— Barulho, e saiu da órbita de Vênus. A menininha estava feliz por ter conseguido escapar da encrenca. Mas um pouco triste também…
— O cachorrinho…
— O Cachorrinho. Foi nessa hora que ela ouviu, entre os barulhos da nave… Wirf! Wirf!
— O CACHORRINHO!
— Sim! Saído de dentro de uma caixa na nave pulou o cachorrinho, que havia se escondido no foguete sem a Menininha ver! Ele queria ir junto com a sua nova amiga. Eles se abraçaram, e a Menininha resolveu que agora eles iam ficar sempre juntos. E ela resolveu dar o nome de…
— De…?
— De… (sem nenhuma ideia para o nome de um cachorrinho venusiano)… de quê filha? Qual o nome dele?
— Fissar!
— Sim! De Fissar, o cachorrinho venusiano!
E agora a Menininha tinha uma missão e um companheiro pelo sistema solar. As histórias se seguiram, e inventei até um “season finale”. Teve muitas aventuras, teve piratas do espaço, porque claro que vai ter piratas do espaço, e sereias espaciais, porque claro que vai ter sereias espaciais, e civilizações perdidas, e aventuras no oceano subterrâneo de Ceres e…
Eu cheguei a começar uma “segunda temporada”, mas aos poucos a Menininha que gostava de foguetes saiu de moda, devido ao surgimento de um novo personagem em um novo universo. Com o meu filho mais novo crescendo um pouco, ele passou a pedir historinhas também, em vez de só ouvir as da irmã, e o universo da Floresta Mágica e seu mais famoso habitante, o Ursinho Azul, acabou tomando conta. Hoje os dois estão bem maiores (a mais velha entrou até na escola média), mas todos os dias eu tenho de improvisar uma historinha do Ursinho Azul. Ao longo dos anos, acabei desenvolvendo todo elenco de personagens. Inclusive a Menininha que gostava de foguetes aparece de vez em quando, em um crossover. Hah.
Mas isso é uma outra historia para uma outra noite, que agora tá na hora de dormir, e papa tá cansado. Welterusten, meus amores.
…
A minha filha desenhou as aventuras da Menininha que gostava de foguetes e eu salvei as imagens. Olha só:
Ah sim, achei aqui uma lista que eu fiz na época das historinhas até o momento, Na verdade, vejo eu, que teve mais historinhas antes de eu resolver fazer toda uma série, porque por uns dois dias eu segui inventando historinhas avulsas da Menininha. Essa é a vida de pai repentista de historinha. Enfim, aqui está a lista dos títulos, que anotei na época:
Episódios Pilotos:
Deel 1: Salvando astronautas na Lua (essa foi a que deu origem a série)
Deel 2: Salvando a capital marciana
Deel 3: Salvando os oceanos da Terra e a humanidade de ser deportada para Andromeda
Season 1:
S01E01: A Missão pelo Sistema Solar e Venus (estreia de Fissar)
S01E02: As cavernas de Mercurio e os dragões de fogo
S01E03: A Base lunar (feat. Neil Armstrong)
S01E04: Ataque dos piratas espaciais
S01E05: Volta a Marte (O Gigante de pedra)
S01E06: Os oceanos subterrâneos de Ceres
S01E07: Observações em Europa (A volta dos piratas)
S01E08: Os diques de Titan
S01E09: Presa no tempo: fuga da cidade flutuante de Saturno
S01E10: A cidade congelada de Urano
S01E11: A base alienígena de Plutão (Season finale)
Prequels:
000 - Como o papai descobriu que a menininha gostava de foguetes (eu inventei essa porque chegamos adiantado na aula de natação e ela ficou entediada esperando. Foi bem curtinha).
já quero um livro infantil!
Sensacional!!!! Daniel, você precisa publicar essas histórias! Em livro! Viajei junto com sua "contação"!